Com muito pesar, o CIGRE-Brasil informa a perda de mais um de seus associados, Jerzy Zbigniew Leopold Lepecki, parte da composição fundadora do CIGRE-Brasil, ativo na instituição há mais de 50 anos - desde o ano de 1970.
Trajetória Profissional
Graduado em Engenharia Civil na capital Mineira em 1952, Belo Horizonte, pela UFMG, o Acadêmico Jerzy Zbigniew Leopold Lepecki chegou ao Brasil em 1939, aos 10 anos de idade - é cidadão brasileiro e possui também a cidadania polonesa. Veio com a família em busca de uma nova vida, longe da guerra. Inicialmente, os Lepecki foram para Curitiba (PR) onde havia uma grande concentração de imigrantes poloneses e depois para Belo Horizonte (MG), onde na vida adulta iniciou a carreira de engenheiro como estagiário das Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig).
“O processo de eletrificação do Brasil estava recomeçando e até aquele momento a maior parte das empresas do setor era privada. Para sanar alguns dos problemas que existiam com elas, foram criadas aos poucos empresas de economia mista, hoje conhecidas como estatais. Inicialmente funcionavam muito bem e, ao mesmo tempo, tinham algumas vantagens pelo fato de apresentarem acionistas governamentais”, lembra o engenheiro, que fez três especializações nos Estados Unidos. Na Cemig, o eng. Lepecki chegou à chefia do Setor de Cálculos Elétricos e Planejamento do Sistema.
Comemoração da turma de formandos 1952 – Jerzy Lepecki, quarto da direita para a esquerda
Ao sair da companhia, o eng. Lepecki fundou uma empresa de construção de redes de distribuição e outra de projetos de instalações de energia elétrica em alta tensão. Mais tarde trabalhou nas Centrais Elétricas do Pará (Celpa), onde exerceu os cargos de Diretor Técnico e Presidente. Posteriormente assumiu em sequência, as funções de Diretor de Operações, Diretor Técnico e Membro do Conselho das Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp). Em 1973, ingressou na Eletrobras. Na empresa foi um dos fundadores e Diretor Geral do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), onde ficou até 1991, quando se aposentou.
Fora das atividades puramente profissionais, o engenheiro Jerzy Lepecki atuou em organizações técnicas nacionais e internacionais. Em particular teve bastante atuação no CIGRE – Conseil International de Grands Reseaux Electriques, instituição internacional com sede em Paris. Foi presidente do Comitê Nacional Brasileiro do CIGRE e posteriormente presidente do CIGRE internacional. Publicou também vários artigos técnicos em revistas nacionais e internacionais. É membro da Academia Nacional de Engenharia, onde coordena o seu Comitê de Energia.
Lepecki nos dias mais atuais, na Cerimônia dos 45 Anos do Cepel, em 2019 Acervo CEPEL
Com a experiência de quem atuou vários anos no setor elétrico, e ainda se dedica ao estudo do assunto, o engenheiro diz que o Brasil passa por uma fase de mudanças. “Durante muitos anos nosso sistema foi hidroelétrico. Agora está em transição para hidrotérmico, o que já ocorreu em outros países. A mudança é inevitável”, afirma o especialista, ressaltando que o Brasil apresenta ótimas condições para o aproveitamento das energias eólica e solar. “Temos boas condições para as usinas eólicas porque aparentemente os ventos são mais constantes e a diversidade é tal que eles se complementam. Outra vantagem é que ainda temos os reservatórios hidrelétricos, então se temos muito vento podemos reduzir o uso das hidrelétricas e guardar a água nos reservatórios para utilizar na falta de ventos”, explica o engenheiro, que lamenta o fato do índice de usinas com reservatórios ser cada vez menor.
*Premiações
“A verdade é que o Brasil está indo bem na área de energia eólica. Está construindo parques e se preparando na parte técnica. Precisamos ver a parte legal e administrativa”, diz o acadêmico Jerzy Lepecki, que defende também o uso de energia nuclear. “São usinas que trabalham praticamente sem parar durante todo o ano. São caras para construir, mas baratas para operar”, afirma o engenheiro que recebeu diversas condecorações como Fellow do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE), Membro Honorário do Conseil International des Grands Reseaux Electriques-CIGRE e CIGRE-Brasil, Centenial Medal do IEEE, Medalha de Mérito Santos Dumont (Aeronáutica), Ordem do Mérito Científico (Comendador), Medalha da Vitória (ex-combatentes poloneses no Brasil), Cruz de Ouro da Ordem de Mérito (Governo polonês).
Mensagem às Engenheiras e aos Engenheiros por Jerzy Lepecki
Inicialmente vou listar, de maneira esquemática, algumas importantes mudanças ocorridas na nossa profissão nestes 70 anos. É uma lista um pouco arbitraria e não exclusiva:
Na nossa turma de formandos de 1952 havia duas mulheres. Hoje temos uma maciça presença feminina; comecei com régua de cálculo e tabua de logaritmos e estou com celular, além da existência de computadores cada vez mais rápidos e poderosos; desaparecem máquinas de escrever e copiadoras heliográficas, as datilografas ou desaparecem ou evoluem para profissionais altamente capacitadas em uso de software gerencial cada vez mais sofisticado e disponível em várias plataformas, surge trabalho remoto; na construção saímos do carrinho de burro a impressoras 3D; surgem energia nuclear, solar, eólica, satélites artificiais, Hidrelétrica funcionando há muitas décadas, continua firme e forte; pequenos sistemas elétricos de potência dão lugar a grandes redes interligadas e agora temos também a Geração Distribuída; preocupação crescente sobre o meio ambiente, substituição de combustíveis fosseis.
Acho que já está vislumbrado o futuro: haverá mudança sempre, nem sempre facilmente previsível apesar de análises e estudos prospectivos. Portanto:
Para enfrentar este futuro, juventude de hoje deve estar preparada. Já que há pouca certeza sobre quais especialidades serão necessárias, quais desaparecerão, quais surgirão, parece razoável sugerir que jovens que iniciam carreira agora sejam bem preparados/as nas áreas básicas – matemática, física, TI. Noções fundamentais de economia. Cultura geral além da tecnologia, também ajuda a compreender o mundo e a reconhecer “fake news”. É necessária atualização permanente – como hoje aliás – mente aberta, habilidade de trabalhar em grupos multidisciplinares. Frequentemente novas tendencias vindas de fora não se adaptam à realidade brasileira. Isto deve ser levado em consideração. Resumindo, enfrentar um mundo novo, sempre interessante e estimulante com bons desafios. Boa Sorte!
* FONTE: Editorial revista EletroEvolução 98 e Vídeo Homenagem do Cepel - Episódio I