Quebrando o protocolo pela 2a vez consecutiva - em se tratando da maior representatividade dentro do setor de energia - apresentamos mais uma profissional da área de comunicação, tão em alta nos últimos tempos.
Desde a adolescência fascinada como trabalha a mente humana, com as primeiras influências através das leituras da Agatha Christie, com o seu personagem detetive belga, Hercule Poirot, detentor de um jeito excêntrico de desvendar os mistérios, através da análise da "massa cinzenta". Foram uma das sementes que certamente vieram a inspirar a escolha da profissão da Gerente de Comunicação e Eventos do CIGRE-Brasil, Natasha de Decco: publicitária (mas que flerta com o jornalismo) pela PUC-Rio, que completa, neste ano, 14 anos de atuação na instituição - e que enxerga em ações como o Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil, uma missão de ressignificação e de despertar empatia pela dor do próximo.
Convidamos todas e todos a lerem o bate-papo como um verdadeiro exercício de imersão - para além de uma trajetória profissional, mas acerca de ideias que possam ajudar na nossa construção enquanto seres humanos. E sempre com o foco em apresentar exemplos através de trajetórias femininas que possam inspirar a outras mulheres do Setor Eletroenergético.
Vem com a gente? Boa leitura!
______________________________________
CB: Como se deu a sua entrada no Setor EletroEnergético?
ND: Foi por um acaso, nada planejado. A minha porta de entrada foi a EPE. Na época, trabalhei com o Paulo Cesar Vaz Esmeraldo, Superintendente de Transmissão e, até então, Diretor-Presidente do CIGRE-Brasil. Eu não fiquei por muito tempo porque eu estava como contratada temporária, em uma fase de transição de concursos da empresa e logo na sequência fui para a IBM.
Mas, em 2009, eu recebi o convite para trabalhar no Departamento de Eventos, pela Fátima Gama - com quem eu também trabalhei na EPE e que, na ocasião, era Diretora Administrativa do CIGRE-Brasil, na gestão do então presidente, José Henrique Machado Fernandes. Decidi abraçar a oportunidade e aqui estou, desde então, de volta ao Setor EletroEnergético.
Foi realmente uma (grata) surpresa, pois eu nunca imaginei em atuar no setor de energia. Nós saímos da faculdade com foco em trabalhar em agência de publicidade, jornal, sites e afins, dependendo da habilitação escolhida - no caso da PUC, jornalismo ou publicidade. O que nem tinha muito mercado aqui no Rio de Janeiro, no caso da minha escolha - vale lembrar que nos últimos anos o contexto da Comunicação mudou radicalmente, ainda mais com o boom das redes sociais. De todo modo, quando me formei, ainda não tinha muito direcionamento e só fui ter ciência do campo de comunicação corporativa / institucional / endomarketing já dentro do mercado de trabalho, na IBM. Hoje, olhando para trás, eu me sinto satisfeita - de verdade - com todo o caminho percorrido e onde eu me encontrei.
Isto porque eu vejo minha atuação no CIGRE-Brasil bem condizente com aonde eu quero chegar. Não somente em termos de conquistas profissionais. Isto é imprescindível, claro, mas eu quero dizer no quesito SER ser humano. O CIGRE tem um campo de conhecimento multifacetado, que envolve assuntos que levantam questões clamadas pela sociedade - sustentabilidade, inclusão, educação, fontes renováveis e etc - e discute possibilidades de soluções que visam melhorias do bem-estar social como um todo.
Eu me lembro, por exemplo, de uma entrevista que realizamos com o José Henrique Machado Fernandes, que compartilhou conosco o quão foi emocionante participar do projeto "Luz para Todos". Sei que se tratou de uma ação operacionalizada pelas empresas do Grupo Eletrobras, mas ele é um voluntário nosso bem atuante e as empresas umas das maiores parceiras que temos. Acredito que estamos juntos nesta caminhada. É gratificante ter um trabalho atrelado a esta missão e não simplesmente vender um produto para ser mais um agente que estimula um consumo desenfreado na sociedade. Com o CIGRE-Brasil eu vislumbro esse caminho de fazer parte de contribuições por um mundo melhor.
CB: Quais os desafios encontrados ao longo da sua trajetória e o que a fez prosseguir?
ND: O maior de todos: crescer. Não consegui fisicamente, mas acredito que em termos de maturidade tenho alguns avanços (risos). Brincadeiras à parte, tornar-se adulto é um dos maiores desafios que podemos ter na trajetória. Eu tive que sair da casa dos meus pais bem mais cedo e me virar sozinha - minha irmã e eu - na força, por questões da vida, conciliando estudo, trabalho, aprender e conseguir a administrar os problemas de uma casa e etc. Na minha geração isso não era comum. Então, durante muito tempo eu me comparava e não aceitava a situação. Mas, agora, depois de todo o processo, eu vejo como isso foi essencial para o meu crescimento. Não só por questões práticas da vida, mas também por amadurecimento do perfil. E, claro, tudo isso influencia diretamente no âmbito profissional.
Nesse campo, no início penso que o maior obstáculo foi alcançar credibilidade. Algumas vezes me deparei com situações de descrédito pela minha formação ou pela minha aparência física, com comentários pejorativos subestimando a minha capacidade intelectual. E isso não é nem um pouco satisfatório, sobretudo quando ainda estamos nos construindo. Pois muitas vezes a postura do outro pode minar com a nossa autoestima, prejudicando a nossa produtividade, o nosso desenvolvimento.
Com o passar do tempo, investindo em conhecimento, autoconhecimento, desenvolvendo a minha inteligência emocional, definindo quais são os valores que me movem e me cercando daquilo e daqueles que fazem bem para a alma - apoio da família e amigos, incentivo de amigos do trabalho - foi possível essa conquista. E vamos aprendendo a nos blindar também. Não é que não incomode mais, mas não desestrutura.
Hoje já me vejo com uma personalidade bem mais forte, sou uma pitta-vata, de acordo com a medicina ayurveda (risos). E, em todas as instâncias da vida, nós ficamos mais certos de quem somos, o que queremos, sabemos nos posicionar mais adequadamente, colocar limite no outro e ter mais autoconfiança.
CB: Que pessoas e por qual motivo foram de fundamental importância ao longo de sua trajetória profissional?
ND: Na parte pessoal, minha família de forma geral, com todo a atenção que tive e ainda tenho para superação dos desafios do dia a dia. Mas, lá no topo, minha mãe e já em outro plano da vida, meu pai. Além de serem minha maior referência de virtude me deram oportunidades de estudos, liberdade de escolha no meu caminho, ajudando na minha construção.
Minha mãe sendo exemplo na questão de gênero - ela veio do interior de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, superou muitas barreiras de sua época e com a sabedoria de não dar trela a elas. Conquistou estudos, mestrados em farmácia, empresária e tudo isso ao mesmo tempo - com filha pequena e grávida de gêmeos. Com toda essa energia, até os dias de hoje, é de fato minha maior inspiração (e orgulho!) para seguir em frente.
Na parte profissional são muitas pessoas queridas a quem eu agradeço imensamente pelo acolhimento, carinho, cuidado, reconhecimento e MUITA parceria - de fato mais do que fundamentais por todo crescimento , desenvolvimento profissional e pessoal alcançados. São muitos e não teria como citar todos (risos). Mas são todos os amigos que fazemos no CIGRE-Brasil - os coordenadores, secretários e membros dos Comitês de Estudos (CEs), os diretores (atuais e os que eu já convivi nas outras gestões, desde 2009) e também as empresas parceiras na organização.
Tem ainda os meus colegas de trabalho com quem divido o dia a dia e com quem sempre trocamos ideias não só profissionais, mas sobre a vida, questões pessoais, uma 2a família - atualmente, a Claudia Santo, com quem trabalho há quase 14 anos, a Verônica Santos, o Leandro Taranto e o Gabriel Serafim, com quem tenho uma grande sinergia nas nossas atividades.
Por fim, eu citaria nossa diretoria atual - Saulo Cisneiros, Iony Patriota, Antonio Pires e Carla Damasceno Peixoto. Passamos por transições estruturais na empresa e, como toda mudança, com algumas conturbações. Agradeço toda a consideração, quase uma proteção até. E, em especial, pela motivação da Carla e pelo acolhimento do Pires, que acabam exercendo papéis de pais - e eu como filha rebelde (sou rockeira, tenho uma veia punk, risos). De verdade, os dois sempre fazendo questão em nos valorizar e a Carla, além de diretora é Coordenadora do Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil - sempre bem atuante nesse tema sobre o posicionamento da mulher, todo o tempo nos incentivando.
CB: Qual a sua atuação dentro do CIGRE-Brasil?
ND: Hoje, eu gerencio as nossas ações de comunicação que envolve nossos eventos, principalmente, mas toda nossa produção de conteúdo. Atuo ainda ao lado dos coordenadores, secretários, membros dos CEs, além das empresas parceiras que participam como comissão organizadora nas atividades maiores - como o SNPTEE, SIMPASE, SEPOPE, STPC, WORKSPOT, EDAO e ERIAC.
Visita Itaipu ao CIGRE-Brasil - novembro 2021
Coronel Robson Rodrigues de Oliveira (Chefe de Gabinete do Diretor-Geral Brasileiro da Itaipu Binacional), Juliano Couto Portela (Assistente do Diretor Técnico Executivo da Itaipu Binacional),
Carla Damasceno (Diretora de Assuntos Corporativos do CIGRE-Brasil), Natasha de Decco (Gerente de Comunicação e Eventos do CIGRE-Brasil),
Cláudia Santo (Gerente Administrativo e Financeiro do CIGRE-Brasil), General João Francisco Ferreira (Diretor-Geral Brasileiro da Itaipu Binacional) e
Celso Villar Torino (Diretor Técnico Executivo da Itaipu Binacional) – da esquerda para a direita
Eu venho acompanhando, ao longo dos anos, o processo de transição do CIGRE-Brasil, o que refletiu bastante no perfil do departamento. Acredito que tenha influência de quem fica à frente e também pelo mundo mesmo - estamos em constante movimentação. É natural essa evolução. Uma dessas mudanças foi o projeto de implementação da newsletter, que teve seu lançamento em agosto de 2015, na gestão do Josias Araujo. Na época, eu ainda não tinha assumido a gerência - era a minha colega Flávia Mazzini - mas fiz parte e estive à frente do processo criativo, apresentei todo o plano piloto, que claro, foi sendo repaginado, como tudo na vida. Na pandemia, por exemplo, tivemos um projeto de editoriais em que convidávamos os leitores a refletir sobre as questões das nossas ações e sempre traçando um paralelo com as atividades do CIGRE-Brasil, com base em ensinamentos de pensadores / inventores / artistas ou qualquer gênio polímata que a humanidade teve.
Outro ponto também foi o envolvimento com a parte editorial da nossa publicação trimestral, a revista EletroEvolução, que até então não participávamos. Também em 2015, o Diretor de Assuntos Corporativos da ocasião, Antonio Pires, me chamou para fazer parte do Conselho Editorial, para ajudar com o desenvolvimento das matérias. Foi nesse ano também que foi criada a seção Memória da Empresa - implementada pelo mesmo diretor - onde convidamos um parceiro a nos contar um pouco da sua história, valores e missão.
De lá para cá realmente o cenário tem sido outro. Antes nossa atuação era mais em lidar com a logística, contratação, fornecedores, fechamento contábil, relatórios de patrocínio e demais aspectos administrativos, inclusive dentro do CIGRE-Brasil, como empresa, o que ainda temos. Como nossa equipe é muita enxuta, nós temos que aprender a fazer de tudo - o que é bem característico mesmo de empresas menores ter esse perfil multidisciplinar. Sei que esta é a tônica do mercado atual, mas o CIGRE-Brasil é acima da média (risos). Agora o envolvimento é mais profundo, participamos mais ativamente da organização e acabamos nos envolvendo com os temas abordados, até mesmo por conta da geração de conteúdo. Penso que ficou até mais acentuado nos últimos anos de pandemia, com as iniciativas de webinars, onde os especialistas convidados trouxeram as problemáticas de uma forma mais didática, para atingir um público mais amplo.
E acredito que essa seja a tendência mesmo, de nos afinarmos cada vez mais com a instituição. Dessa forma passamos a entendê-la melhor e a cumprir o nosso papel com mais satisfação. Uma vez até levantamos essa questão em um dos nossos editoriais que mencionei, falando sobre o real sentido da palavra "proatividade" - que não é somente realizar a demanda solicitada, mas tentar entender o porquê, conhecer e quem sabe contribuir com novas ideias em busca de inovação, melhorias. Penso então que estejamos desempenhando essa função atualmente, acima de tudo.
Comissão Organizadora do II SINTRE - parceiros, colegas e, sobretudo, amigos
Da esquerda para a direita: Viviane Lopes (ABRATE), Edith Carvalho (ABRATE), Gabriel Serafim (CIGRE-Brasil),
Natasha de Decco (CIGRE-Brasil), Antonio Pires (CIGRE-Brasil) e Isabela Brasil (ABRATE).
CB: O que você acha das ações de integração das mulheres promovidas pelo CIGRE-Brasil?
ND: Eu vejo como uma missão de ressignificação. É até curioso pensar nesses ciclos da sociedade. Porque lá no passado, na Antiguidade, a figura da mulher era de poder, como a Cleópatra, uma verdadeira matriarca. Só que com as transformações históricas, distorções de conceitos antigos foram acontecendo, incluindo do arquétipo feminino.
Ao longo dos anos surgiram grupos que clamaram pela necessidade de ações que promovessem a inclusão da figura feminina. Mas mesmo com toda a conscientização e alcances trazidos por gerações anteriores, ainda se observa a urgência de feitos que aumentem o restabelecimento do direito de posicionamento da mulher. E, nesse sentido, o Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil tem um papel fundamental, de trazer essa problemática para o entendimento de todos - homens e mulheres.
Eu mesma só fui ter essa sensibilidade depois que saí da "proteção" de casa. Porque eu sou de uma família onde o cromossomo X impera (risos). Minhas tias, minha mãe, irmã, primas, são todas de personalidade forte. Eu ainda sou gêmea com um cromossomo Y e nunca tive diferença de tratamento pelos meus pais. Mesmo eles sendo do interior de Minas Gerais, onde, no tempo deles, era mais forte essa questão das convenções sociais em torno da imagem do homem e da mulher. Quando fui para o mundo, eu realmente senti esse impacto e não me conformava. E não é só no mercado de trabalho. Também se estende à vida no dia a dia, como um comentário desrespeitoso ou pejorativo, que muitas vezes nos deixam constrangidas.
Sei que muitos devem pensar que se trata de uma trivialidade, mas não é. A sociedade ainda tem esses resquícios do passado, muitas vezes velados, mas eles existem. Sobretudo porque temos gerações diferentes convivendo entre si. Aí que reside o valor de ações como o do Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil. Pois se trata de uma busca em despertar empatia pela dor do outro. Não é só porque não sentimos que ela não é válida. É como no preconceito racial. Novamente me colocando como exemplo, eu nunca passei por isso, mas já ouvi histórias de amigos que passaram por situações muito tristes.
Essa questão foi bem representada na e-Session de 2020 do CIGRE internacional, em uma apresentação emocionante do WiE Australiano - até então Women in Engineering. Eles levaram uma novidade com a projeção de uma atividade chamada Put Your Fingers Down, entre homens e mulheres envolvidos, para destacar as diferenças entre suas experiências pessoais no setor da engenharia e no CIGRE.
A apresentação pautou circunstâncias em âmbito profissional, questionando se as pessoas passaram por episódios de exclusão, minorias ou tratamentos diferenciados e inapropriados do ponto de vista moral, devido ao seu gênero. Deveriam abaixar um dedo, conforme as sentenças, quem se identificasse com a ocorrência colocada. A experiência tinha o intuito de mostrar que em boa parte são as mulheres condicionadas a essas situações. O vídeo encerrava com uma mensagem de esperança e da necessidade do CIGRE em apoiar e encorajar as mulheres a fim de que possam promover a diversidade a longo prazo.
A longo prazo porque realmente temos um caminho a ser percorrido. Não é fácil mudar crenças e valores tão enraizados. É que nem reposicionamento de marca. Quem não se lembra de como eram as Havaianas? Eu vejo como um dos maiores cases publicitários. Foi preciso muita ação, muita divulgação para transformar um produto que era vendido em prateleira de mercado para um calçado de elite, praticamente - se parar para pensar que se trata de apenas um chinelo, com preços altos. Então, muitas ações serão precisas para mudar esse panorama. Mas tenho fé que um dia chegaremos lá.
Acredito que viemos com um papel nesta vida, em descobrir o nosso ikigai - um termo japonês para a nossa razão de viver, o nosso propósito. Não estamos aqui apenas de passagem. Nossas ações devem ser direcionadas para nos edificarmos. Em comunicação temos uma formação muito multidisciplinar. Estudamos história, economia, antropologia, sociologia, semiótica (estudo dos signos de linguagem), psicologia, filosofia, e por aí vai. Então fica até difícil em não pensar sobre o porquê de estarmos neste mundo e as relações existentes. Chega até ser um paradoxo, porque aprendemos o comportamento humano para aplicar estratégias para questões mundanas, como o consumo e formação de opinião. Sendo que esses estudos nos levam, no fim das contas, a tópicos existenciais. Pelo menos vem sendo assim comigo.
E por conta dessa essência é que enxergo o Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil e seus desdobramentos como uma oportunidade em seguir com uma missão de impactar positivamente na narrativa de outras pessoas. E esperamos muito que sejamos bem-sucedidos nesta empreitada, de coração. Temos a expectativa de podermos ser um apoio para o despertar de muitos potenciais - que muitas vezes ficam adormecidos por conta dessas situações desmotivadoras pelas quais muitas mulheres ainda enfrentam.
CB: Você sendo uma profissional da área de comunicação e já que o CIGRE-Brasil também tem este projeto de incentivar a leitura, com a proposta da newsletter, poderia compartilhar alguma leitura / livro que tenha servido como inspiração?
ND: Uma penca (risos). Atualmente estou lendo "Como se tornar sobrenatural" - indicação de uma nutricionista que sigo no Instagram, especialista em microbiota intestinal. É um hobby novo que tenho em estudar sobre nutrigenética, neurociência e tudo que possa influenciar o cérebro, inclusive o intestino - onde são produzidos os hormônios de aprendizado, como a acetilcolina (da memória), dopamina (que nos faz ficar fixados por um assunto) e etc.
O livro aborda, em linhas muito gerais, a questão de como podemos reprogramar nosso cérebro - não é livro de PNL - para podermos mudar nossos padrões de comportamento que nos levam ao sofrimento psicológico em uma primeira instância, mas que depois pode chegar a desencadear doenças físicas no corpo. E tudo com base na ciência. É uma leitura densa, mas que vale a pena, porque muitas vezes nos identificamos com o que está escrito e pode ser uma base para repensarmos nosso modo de viver, pensamentos, valores e a importância que damos para o que está do lado de fora, ao invés de nos interiorizarmos e buscarmos o nosso autoconhecimento.
E um outro, que até o momento eu o elegi como meu livro preferido da vida - "Mundo de Sofia". Eu o tenho desde os 14 anos - a mesma idade da Sofia, na história - todo rabiscado com a letra do meu "eu adolescente" (risos), por conta da aula de filosofia que tive no Ensino Médio. Li 3 vezes, em fases bem diversas da vida e todas elas foram imersões totalmente diferentes. Realmente, um "homem nunca se banha 2 vezes no mesmo rio", como afirmou o filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso - que é mencionado no livro, inclusive.
Ele conta sobre a história da filosofia desde os pré-socráticos, passando pela Antiguidade e demais correntes como o Estoicismo, indo até a Modernidade. Mas também fala da Teoria da Relatividade de Einstein; Freud; Galileu Galilei; Newton; Darwin; Idade Média; Império Romano; Renascimento; sobre a figura da mulher ao longo dos tempos; compara Sócrates e Jesus Cristo e muito mais - é um banho de conhecimento em uma linguagem didática e lúdica, com muitos ensinamentos acerca da humanidade. Eu SUPER recomendo. É maravilhoso!
Aliás, eu recomendo qualquer leitura desde que seja construtiva, claro. Porque todo conhecimento adquirido pode nos modificar e também o nosso entendimento do mundo e assim influenciar nossas decisões futuras. E também fazer com que alcancemos degraus mais altos na escala da nossa evolução.
CB: Quais conselhos você daria para jovens estudantes e profissionais mulheres que também desejam trilhar esta carreira?
ND: Vão atrás do seu ikigai.
Essa palavra possui um conceito muito amplo, já que envolve várias instâncias para ir de encontro com esta descoberta: investir em autoconhecimento, desacelerar, viver o aqui e agora, cuidado com a saúde (física e mental), gratidão pela vida (inclusive pelas pequenas coisas), ter uma missão e ser apaixonado por ela, valorização das pessoas que nos apoiam, como família e amigos e por aí vai.
Transferindo esse conhecimento integrativo para nossa realidade ocidental, especificamente para a vivência corporativa, é fundamental que nossas atividades estejam em consonância com a nossa motivação para seguir em frente. Isto porque nós passamos a maior parte do nosso tempo envolvidos com nosso trabalho. Então é primordial que ele tenha um significado maior, para além do nosso sustento. Vão em busca dessa ideia.
Invistam em capacitação técnica, claro, sobretudo porque o setor elétrico está passando por grandes transformações, sendo um dos agentes na transição energética e que, portanto, precisará cada vez mais de profissionais qualificados. Mas também se dediquem ao autoconhecimento. Quando aprendemos a nos mapear, definir quem somos de fato, quais são nossas forças e fraquezas, fica mais fácil saber em quais pontos focar para nos aperfeiçoar, desenvolvendo novas habilidades, novas conexões neurais.
Porque na vida real, não basta termos apenas um QI (quociente de inteligência) afiado. É ótimo para o meio acadêmico. Mas no dia a dia muitas vezes o que vai falar mais alto é um QE (quociente emocional) desenvolvido. O autor Daniel Goleman coloca essas questões em seu livro "Inteligência Emocional" (outra leitura que indico), contrapondo as diferenças entre esses dois tipos de inteligência e levantando muito do que vemos - pessoas com um excelente desempenho acadêmico, mas que não têm tanto destaque no mercado de trabalho. Ao passo que o contrário também acontece - e não são poucas as vezes. Eu mesma senti isso na pele, não é apenas teoria, por isso me identifiquei muito. Sempre fui aquela "nerd", estereotipada até, com óculos fundo de garrafa e sem muito vínculos sociais (risos). E quando fui para o mercado de trabalho senti esse baque e não conseguia entender o porquê - confesso que ainda estou aprendendo.
Quando nos tornamos mais conscientes de quem somos, passamos a ser mais confiantes e mais resilientes para seguir em frente, ainda que surjam desafios no caminho - o que é natural, isso nunca vai deixar de acontecer. Não tem jeito, nós só evoluímos através da dor, quando saímos da zona de conforto.
Além disso, definam quais são seus valores, pois eles são inegociáveis e poderão ser uma âncora para nortear sua caminhada. Tendo uma noção mais clara do que é importante, daquilo que vale a pena lutar e no que se acredita, acabamos nos afiliando a quem está na mesma busca. Isto é fato: semelhante atrai semelhante - ainda que na física não seja dessa forma (risos). Quando temos aliados, a jornada fica mais leve e prazerosa.
E aí? Vocês vêm com a gente? Vêm para o Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil! :)