A vasta experiência de Gabriela Desirê é traduzida no seu mais de 1/4 de século de caminhada no setor de energia. Com o início de uma trajetória como operadora do sistema, em Furnas, passando à operadora nacional do sistema elétrico, no Operador Nacional do Sistema (ONS). E ainda com passagens pela State Grid, Neoenergia e Evoltz Participações, até os dias atuais, onde ocupa o cargo de diretora executiva de operações da ISA CTEEP - a empresa Coordenadora do XVII EDAO - Encontro para Debates de Assuntos de Operação. Uma das principais ações do CIGRE-Brasil em conjunto com o ONS.
Gabriela é graduada em Engenharia Elétrica e Sistemas Elétricos de Potência, pela Universidade Federal do Ceará. Tem especialização em Sistemas de Controle, pelo Instituto Militar de Engenharia, e em Sistemas Elétricos, pela Universidade Federal de Itajubá. Também possui MBA em Administração de Empresas e Desenvolvimento Gerencial, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Convidamos toda e todos a conferir mais um bate-papo de uma das especialistas expoentes de nosso país. Sempre com o intuito de trazer histórias inspiradoras do gênero feminino, que romperam paradigmas e conquistaram seu espaço.
CB: O que motivou a sua escolha e desde quando pensou em integrar o Setor Eletroenergético?
GD: A minha inspiração para seguir carreira no setor elétrico veio do meu pai, que era eletricista da distribuidora de energia do Ceará. Perceber a importância do trabalho dele em “levar” luz e energia às casas das pessoas me fez escolher a cursar o técnico em eletrotécnica, junto com o ensino médio. Na sequência, iniciei a minha formação em Engenharia Elétrica. Nessa época, eu imaginava seguir na carreira acadêmica e me mudei para o Rio de Janeiro, em 1994, para fazer pós-graduação no Instituto Militar de Engenharia. Logo, surgiu a primeira oportunidade profissional, que veio por meio de concurso público para a vaga de Operador de Sistema Elétrico, no grupo Eletrobras. Nessa época, não havia mulheres nos Centros de Controle, e o fato de ter sido um concurso público possibilitou que eu fosse contratada como a primeira mulher Operadora de Sistemas Elétricos no país.
CB: Quais os desafios encontrados ao longo da sua trajetória e o que a fez prosseguir?
GD: O setor elétrico ainda é um setor muito masculino. Nos anos 1990, quando entrei nessa área, era ainda mais restrito, mas o caminho da superação de desafios sempre veio por meio de dedicação, aprendizado e busca por capacitação técnica. Sempre tive como foco gerar resultados positivos e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, como resiliência, visão estratégica, autoconsciência e coragem para assumir novos desafios. Claro, sempre com o apoio de muita gente que encontrei ao longo do caminho, iniciando pela minha família, pelos professores que tanto me ensinaram e pelos colegas com quem pude compartilhar muitas experiências.
CB: Sabedores dos esforços dedicados a conciliar família e trabalho, o que mais lhe ajudou neste sentido?
GD: Sempre acreditei na importância do equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal. Eu tive filhos ainda no início da minha carreira, o que me possibilitou ocupar posições mais desafiadoras à medida que meus filhos cresciam. Hoje eles são grandes companheiros, conselheiros e me ajudam nas atividades domésticas. Meu filho mais novo também está cursando Engenharia Elétrica, o que me deixa muito feliz por perceber que a minha carreira também foi inspiração para ele.
CB: Que pessoas e por qual motivo foram de fundamental importância ao longo de sua trajetória profissional?
GD: Como já citei, a minha referência de profissional do setor elétrico foi o meu pai, que desde cedo me mostrou a importância do nosso trabalho à sociedade. Além disso, a minha mãe sempre foi um exemplo de como nós, mulheres, podemos ser tão “versáteis” e determinadas. O apoio dos meus pais foi fundamental para que eu concluísse meus estudos e pudesse me mudar para o Rio de Janeiro, onde eu teria mais perspectivas profissionais naquela ocasião. Também tive apoio de muitos dos meus professores da Universidade Federal do Ceará e, ao longo da trajetória profissional, tive apoio de vários colegas e verdadeiros “mentores” que acreditaram no meu potencial e confiaram a mim atribuições que puderam mostrar que não há barreiras culturais, nem questões de gênero quando se está preparada para assumir esses desafios. Esse sentimento me permitiu crescer cada vez mais como profissional e ser humano e chegar à liderança de uma empresa como a ISA CTEEP.
CB: Em maio deste ano, você foi uma das palestrantes de uma das nossas ações que visam a integração no Setor Eletroenergético Brasileiro – no caso, o III Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil. Qual seria o seu posicionamento com relação a essa iniciativa da nossa instituição?
Eu parabenizo o CIGRE pela iniciativa extremamente importante para incentivar outras mulheres a ingressarem no setor elétrico e a reforçar a competência dessas profissionais. Esse tipo de iniciativa deve ser uma constante e sempre visar ao aumento da participação feminina em eventos de representatividade como esse. Gostaria ainda de sugerir para as próximas edições, que o fórum fosse coordenado somente por mulheres e que elas fossem estimuladas a provocar a participação do público feminino da plateia, cada vez mais, trazendo suas experiências e anseios.
Agradeço a oportunidade que me deram para palestrar no III Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil e me coloco à disposição sempre que precisarem.
CB: Quais conselhos você daria para jovens estudantes e profissionais mulheres que também desejam trilhar esta carreira?
GD: Nós temos o desafio de ampliar a presença feminina no setor elétrico e trago comigo a responsabilidade de contribuir e de inspirar outras mulheres para que consigam atingir seus objetivos. Por isso, quero que essas profissionais tenham em mim um apoio para não desistirem de chegar aonde quiserem. O setor elétrico é um impulsionador da infraestrutura e da economia brasileiras. Temos uma grande responsabilidade que é fornecer energia segura e de qualidade à população e precisamos cada vez mais de profissionais qualificados, que tenham conhecimento na incorporação de novas tecnologias e que estejam preparados para trabalhar num setor que está enfrentando uma grande transformação e está sendo responsável pela transição energética em todo o mundo.