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Mãe da Carolina e do Vinícius e avó do Artur e da Liz.
PHD e Mestre em Ciências – Engenharia Elétrica pela Poli-USP.
Advogada e Bacharel em História. Conselheira do CIGRE-Brasil e da Santo Antônio Energia. Professora de direito e mercado de energia elétrica.
Em 2022, eleita Chair da Women in Energy (WiE) do CIGRE International.
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CB: O que motivou a sua escolha e desde quando pensou em integrar o Setor Eletroenergético?
SD: Acredito que escolhi (o setor elétrico é apaixonante e interdisciplinar) e fui escolhida, de certa forma, pois me envolvi em diversas atividades, pude contribuir com muitas construções legal-regulatórias e com a gestão de pessoas. Assumi inúmeras responsabilidades técnicas e de governança. Comecei a trabalhar no setor elétrico em 1996, no âmbito de sua reestruturação, e desde então me dediquei mais às questões setoriais, as quais apresentam conexões diversas com o Direito, o Meio Ambiente, a Engenharia, a Economia, a Geopolítica, entre outras áreas relevantes.
CB: Quais os desafios encontrados ao longo da sua trajetória e o que a fez prosseguir?
SD: Entre os desafios, cito como principal a busca do equilíbrio entre a maternidade, a família, a profissão e a continuidade da vida acadêmica. Isso está longe de ser trivial, pois buscamos equilíbrio, mas o dilema é real e está presente para inúmeras mulheres. É um grande desafio conciliar faculdade, mestrado e doutorado com o trabalho e suas exigências e obrigações.
Outro desafio foi em 2002-2003, para auxiliar o Mercado Atacadista de Energia a entrar em fase regular de operações (houve paralisações do mercado em razão de grande judicialização), conciliando inúmeros interesses e conflitos, com uma carga de trabalho imensa e complexa. Também houve desafios que envolveram questões criminais no mercado, o que era temerário, em termos pessoais, inclusive para os conselheiros da CCEE.
De forma bem transparente, prossegui pelo senso de responsabilidade, pelo amor ao setor, pela necessidade de trabalhar e pelo ânimo de construir soluções e mecanismos para encaminhamento de questões.
CB: Sabedores dos esforços dedicados a conciliar família e trabalho, o que mais lhe ajudou neste sentido?
SD: O auxílio, a compreensão e a resiliência da família; o desejo de evoluir como pessoa e profissional; os desafios e oportunidades que tive; os profissionais que encontrei ao longo da caminhada, muitos dos quais são meus amigos; a possibilidade de também exercer minha atividade de professora.
Alguns acreditam que existem providências e não coincidências. Essas sempre estiveram presentes em minha vida, em maior ou menor grau. Por isso, acredito que prevaleceu a lógica de caminhar e buscar o melhor, ainda que em momentos mais conturbados, ainda que em minoria, ainda que houvesse incômodos que me fizessem pensar em outro caminho. O movimento da vida e os resultados de algumas ações de meu trabalho sempre foram motivadores poderosos nessa jornada.
CB: Que pessoas e por qual motivo foram de fundamental importância ao longo de sua trajetória profissional?
SD: São várias as pessoas e motivos. Vou citar alguns, sob risco de ser injusta, mas certamente todos têm meu reconhecimento.
Em primeiro lugar cito minha mãe que, apesar da simplicidade e de ter feito somente os primeiros anos de alfabetização, conseguiu imprimir em mim o amor e a importância da educação. Cito também meus professores, em especial as professoras de português e de história (o motivo é bastante evidente...minha primeira faculdade é de História...rsss), além do meu orientador no mestrado e no doutorado; meu primeiro chefe, o qual me oportunizou fazer a segunda faculdade em horário especial; os vários amigos que me apoiaram e ajudaram no conhecimento de inúmeras questões do setor elétrico; Lindolfo Paixão, que foi presidente do então Mercado Atacadista de Energia e me convidou para assumir o jurídico do mercado em 2002, onde fiquei por 18 anos; a confiança dos agentes do setor elétrico em minha eleição como conselheira e depois vice-presidente do Conselho de Administração da CCEE (onde concluí meu mandato em 2020); os integrantes do CIGRE-Brasil, em particular a diretora Carla Damasceno e demais diretores e o Presidente Saulo pelo apoio e confiança para que eu fosse eleita conselheira do CIGRE-Brasil e indicada para concorrer como Chair do WiE. Posso dizer que Carla contribuiu demais para esse momento no WiE, agindo sempre de forma colaborativa, proativa e empolgada, o que materializa o que é a sororidade da qual tanto falamos.
Session Paris 2022
Passagem de bastão de Dioka Khayakazi (direita) para Solange David (ao meio):
a nova chair do WiE (Women in Energy)
CB: O que lhe estimulou a participar do CIGRE-Brasil?
SD: O compromisso, a visão e a missão dessa comunidade colaborativa que agrega efetivo valor ao profissional do setor elétrico. Tenho um lema - educação, educação e educação. O CIGRE-Brasil materializa esse ideal, como principal fonte de criação e compartilhamento do conhecimento do sistema de energia há mais de 50 anos, via atividades e comitês técnicos. Entendi que podia colaborar e receber, de maneira salutar e agregadora. Eu tenho essa missão: retribuir à comunidade, inclusive por meio do CIGRE-Brasil, o muito que obtive em minha vida acadêmica e profissional.
CB: O que você acha das ações de integração das mulheres promovidas pelo CIGRE-Brasil?
SD: O CIGRE-Brasil está de parabéns. Vejo um caminho muito promissor. São várias as ações de integração das mulheres, o que tem se intensificado nos últimos anos e demonstrado a relevância da diversidade, de buscar um desenvolvimento conjunto, incluindo profissionais homens e mulheres e suas ações de apoio e incentivo para outros profissionais, em especial mulheres, que possuem ampla condição de ocupar outros espaços. Essa é a visão de uma comunidade colaborativa – agregar, apoiar, integrar, incentivar, motivar.
Foi também em razão dessa integração que fui indicada e depois eleita para ocupar o honroso cargo de Chair do Women in Energy (WiE) do CIGRE International.
CB: Quais conselhos você daria para jovens estudantes e profissionais mulheres que também desejam trilhar esta carreira?
Acreditem, aprimorem-se, busquem, persistam, preparem-se.
Participem de fóruns, de grupos técnicos e de debates, de iniciativas, de comunidades colaborativas e integradoras, como o CIGRE-Brasil. As oportunidades existem e é importante abraçar as possibilidades, ainda que haja um gap, uma lacuna a ser preenchida. Sempre há um ponto de partida e estar preparada da melhor forma é um dos passos fundamentais. A realização de um ideal pode estar mais próxima do que se imagina, até porque os sonhos acordam quando os pensamentos adormecem, e assumem um outro sentido quando se luta por aquilo que se quer, sem deixar esse sonho adormecer.