Em consonância com o compromisso mundial de cumprir a agenda de 2030 - que consiste na aplicação dos 17 ODS estabelecidos pela ONU - estão alguns dos projetos do CIGRE-Brasil.
Nesta esteira de ações, a instituição promove a inclusão e a integração dentro do Setor Elétrico (SE), motivo do engajamento em atividades como o Fórum de Mulheres, apresentado em outras publicações.
Com o intuito de estimular a participação feminina no SE, o fórum em questão é realizado em todas as edições do maior evento da entidade - o SNPTEE - Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica. Que por sinal está caminhando para sua 4a edição, já com data e local marcados: novembro de 2023, na capital nacional, Brasília - DF.
Coluna Trajetória Feminina no Setor de Energia
E fazendo parte desses movimentos em prol de uma igualdade de gênero, o CIGRE-Brasil está lançando uma coluna mensal, a qual consiste na apresentação de representantes femininas dentro do setor de energia como um todo, para que possam nos contar sobre suas trajetórias, desafios e superações. Atuando, dessa forma, como espelhos para suas pares que já se encontram no mercado de trabalho ou mesmo para aquelas que iniciam suas jornadas e estão na busca por referenciais.
É nesse sentido que o Comitê Nacional Brasileiro realizará uma série de entrevistas com mulheres que vêm conquistando colocações de destaque, com o objetivo de primar pela sua missão institucional: promover o compartilhamento e a disseminação de conhecimentos aplicados ao setor elétrico, como indutor da qualidade de vida sustentável.
Inaugurando a seção, confira a seguir um emocionante relato de uma profissional que fez a diferença e a transformou em um dos símbolos disruptivos não só na engenharia elétrica nacional, como também nesse movimento que anseia por um posicionamento equitativo da figura da mulher na sociedade.
Entrevista Simone Moreira Dias
Simone é engenheira eletricista, formada na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) de São Bernardo do Campo e tem mais de 15 anos de atuação no setor elétrico. Atualmente executa a função de Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento para América Latina, na multinacional Prysmian Cabos e Sistemas.
CIGRE-Brasil: O que motivou a sua escolha e desde quando pensou em integrar o Setor EletroEnergético?
Simone: A minha paixão pela engenharia surgiu quando eu ainda era criança, ao ver um noticiário sobre a construção da Ponte Rio-Niterói.
Até cheguei a fazer um curso técnico de Edificações na ETE Júlio de Mesquita e trabalhei na área civil, porém, ao entrar na faculdade, migrei para a engenharia elétrica em virtude das oportunidades de trabalho do setor EletroEnergético.
CIGRE-Brasil: Quais os desafios encontrados ao longo da sua trajetória e o que a fez prosseguir?
Simone: Falar da minha trajetória profissional é algo que me traz muito orgulho, principalmente quando olho para minhas origens: mulher, negra, estudante de escola pública no ensino fundamental e médio, bolsista integral na universidade, que morou até os 30 anos na comunidade do Heliópolis em São Paulo.
Ao longo da minha trajetória profissional, muitas barreiras precisaram ser vencidas, a começar pela desmotivação e descrença dentro da própria família, a qual achava impossível que eu pudesse cursar uma faculdade particular diante da nossa realidade financeira na época.
Através do programa de governo “Escola da família”, consegui uma bolsa de estudos que me permitiu cursar a faculdade de engenharia. Porém, a necessidade de conciliar trabalho com os estudos na faculdade não foi fácil, já que eu precisava custear minhas despesas com transporte, alimentação, livros e também ajudar nas despesas de casa.
Na faculdade, muitas vezes tive o sentimento de não fazer parte daquele ambiente, não só pela questão da representatividade feminina na turma (eram 90 alunos, sendo 10 mulheres e só eu da raça negra), mas também pela condição financeira, já que a grande maioria tinha uma situação financeira melhor.
Já na indústria, o desafio foi conquistar o respeito dos colegas de trabalho num ambiente predominantemente masculino. Confesso que precisei dispensar muita energia para conquistar o meu espaço e demonstrar minhas competências.
Durante a minha jornada decidi transformar as dificuldades e barreiras em oportunidades de aprendizagem. Acredito que as minhas conquistas foram motivadas pela paixão à engenharia, minha capacidade de superação e por minha fé. Sem estes eu não conseguiria prosseguir até aqui.
CIGRE-Brasil: Sabedores dos esforços dedicados a conciliar família e trabalho, o que mais lhe ajudou neste sentido?
Simone: Realmente a tarefa de conciliar a vida profissional com a vida familiar não é nada fácil, ainda mais quando se tem filhos pequenos.
Eu diria que o diálogo, o planejamento e a parceria familiar são de suma importância para evitar estresse e sobrecarga. Em casa somos uma equipe, onde todos ajudam nas tarefas domésticas do cotidiano. Assim sobra tempo para curtimos os momentos de lazer em família.
CIGRE-Brasil: O que lhe estimulou a participar do CIGRE-Brasil e qual a sua atuação dentro desta organização?
Simone: Os conteúdos apresentados nos fóruns da mulheres me motivaram a fazer parte do CIGRE-Brasil.
Dentro do CIGRE espero contribuir tecnicamente com os grupos de trabalhos do comitê de estudos B1 – Cabos isolados, assim como com as atividades relacionadas ao fórum das mulheres.
CIGRE-Brasil: O que você acha das ações de integração das mulheres promovidas pelo CIGRE-Brasil?
Simone: O trabalho que o CIGRE-Brasil está fazendo na integração das mulheres é maravilhoso e muito necessário. Isso tem feito com que a voz feminina seja cada vez mais ouvida e respeitada dentro dos inúmeros fóruns deste setor.
Infelizmente no Brasil ainda temos um déficit muito grande de mulheres com formação técnica que estejam interessadas em ocupar as vagas abertas neste segmento. A proporção de homens que se candidatam para as vagas técnicas ainda é muito maior que a de mulheres.
As ações do CIGRE-Brasil tem ajudado a divulgar o trabalho de muitas colegas da nossa área, demonstrando que o setor está cada vez mais aberto para receber as profissionais que queiram trazer uma visão diferente para o mercado.
CIGRE-Brasil: Quais conselhos você daria para jovens estudantes e profissionais mulheres que também desejam trilhar esta carreira?
A diversidade de gênero é algo que tem sido cada vez mais fomentada dentro das empresas de todos os setores. Ter uma equipe diversificada ajuda as empresas a obterem resultados mais amplos e sólidos, analisados por distintos pontos de vista. Esta demanda tem feito crescer a busca por mulheres capacitadas para ocupar inúmeras vagas no segmento técnico.
Se você é estudante ou deseja migrar para uma carreira técnica, eu aconselho que busque por uma formação especializada e de qualidade, e que tenha muita determinação para alcançar seus objetivos.