Luiza Lemos Nogueira Martins e a Busca pelo Melhor Desempenho Socioambiental do Sistema Elétrico Brasileiro
Pode nos contar um pouco como se deu a sua escolha pelo trabalho no setor elétrico? Eu sempre gostei muito do mercado de energia e da área de sustentabilidade, mas acredito que tive muita sorte logo que entrei no mercado de trabalho. Comecei meu estágio em duas empresas do setor de energia, a Triângulo Mineiro Transmissora (TMT) - uma LT entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais - e a Vale do São Bartolomeu (VSB), uma LT no Estado de Goiás, ambas de propriedade de Furnas. Nessas empresas, o Diretor Técnico era o João Batista Guimarães Ferreira da Silva (conhecido como Joãozinho), com quem aprendi muito nesses anos, ele me passou o amor pelo setor elétrico e essa área foi me fascinando cada vez mais. No âmbito profissional você tem atuado na interface do setor com as questões ambientais, na empresa de consultoria Ambientare. Como se dá o seu trabalho? Como tem percebido os desafios e as potencialidades dessa área do setor elétrico hoje?
Na TMT e na VSB eu acompanhei todo o processo de licenciamento, desde as audiências públicas, às emissões das licenças, à implantação do empreendimento até a sua operação. Já no meu trabalho atual, na Ambientare, eu coordeno empreendimentos de Linha de Transmissão que na maioria das vezes já estão em operação, então, há uma série de programas ambientais que as empresas devem cumprir. O mais complicado no âmbito ambiental, para mim, é o fato das empresas muitas vezes ainda não darem tanto valor ao meio ambiente, em muitas ocasiões ele fica em segundo plano. Apesar de estar melhorando, os órgãos ambientais brasileiros deveriam fiscalizar melhor os empreendimentos pois muitas vezes fazemos mais ações por “boa prática” do que apenas por obrigação e isso acaba ficando solto no mercado pois muitas empresas podem não pensar dessa mesma maneira. Sua participção nos eventos do CIGRE e no Comitê de Estudos C3 de Desempenho Ambiental de Sistemas é intensa. Qual a importância do CIGRE no seu percurso profissional e de formação? O CIGRE abriu a minha cabeça para a dimensão que tem esse mercado e como podemos aprender e crescer com ele. A minha primeira viagem internacional foi à Coreia do Sul, onde pude participar da reunião internacional do SC-C3 e fiquei encantada com todas as palestras e discussões. Ver diversos países discutindo sobre um mesmo assunto e trocando experiencias me deixou muito estimulada em participar também. O CIGRE cada vez mais abre caminhos no âmbito do conhecimento e consequentemente no âmbito profissional. Finalmente, como tem percebido a presença feminina no setor? Ainda há uma predominância masculina no setor elétrico, mas isso está mudando com o passar dos anos, as mulheres estão cada vez mais demonstrando sua vontade de estar no mercado, com os mesmos direitos e vem conquistando isso. Principalmente no Comitê C3 brasileiro há uma predominância de mulheres e isso demonstra como o mercado tem mudado. Para mulheres jovens isso é muito estimulante, pois ter como referências outras engenheiras demonstra que o setor vem mudando e está cada vez mais aberto para nós.
Duas vezes Engenheira pela PUC Minas, Isabela Fiuza trabalha na CEMIG depois de duas Graduações na PUC Minas em Engenharia em Energia e em Engenharia Elétrica
A escolha pelo trabalho no setor elétrico não foi algo imediato, mas sim um processo de autoconhecimento e descoberta ao longo da minha trajetória. Ingressei no curso de Engenharia de Energia da PUC Minas, onde tive o meu primeiro contato com o universo da engenharia. A ideia de trabalhar em uma área tão estratégica e imprescindível para o desenvolvimento e a qualidade de vida do ser humano me fascinava. Formei-me no final de 2014 e, buscando me aprofundar no universo da energia elétrica, decidi ingressar no curso de Engenharia Elétrica, também na PUC Minas. Além das atividades curriculares do curso, tive a oportunidade de prestar monitoria na área de máquinas elétricas rotativas, atividade que despertou ainda mais minha paixão por esse universo. Paralelamente à monitoria, estagiei na área de utilidades da Fiat Chrysler Automobiles, onde pude diariamente aplicar e viver, na prática, conceitos e conteúdos estudados no ambiente acadêmico. Essas experiências foram imprescindíveis na minha formação como profissional e os professores e profissionais que tive a honra de conhecer foram verdadeiros mestres e fontes de inspiração. Em julho de 2019, formei-me como destaque acadêmico do curso de Engenharia Elétrica e, hoje, atuo na área de Geração Distribuída na CEMIG. Como tem percebido a presença feminina no setor? Durante o curso de Engenharia Elétrica, percebi uma maior participação feminina na Academia. Isso tanto em quantidade de alunas no ambiente acadêmico quanto no envolvimento ativo nas atividades do curso. Acredito que essa maior presença esteja relacionada a uma mudança cultural que vem acontecendo na atualidade, em que as mulheres têm se posicionado mais ativamente em suas áreas de conhecimento e atuação. Esse fator foi extremamente importante e um diferencial na minha formação como engenheira. Ao reconhecer semelhantes na sala de aula, especialmente em um universo majoritariamente masculino, criamos uma rede de apoio, pessoal e profissionalmente, e, assim, conseguimos atrair outras mulheres que também se interessam por engenharia. A presença de professoras também é imprescindível nesse processo, o que influencia outras mulheres a também seguir a vida acadêmica ou assumir uma postura de liderança nas empresas A engenharia, ainda que de forma lenta, mas gradual, tem deixado de ser percebida como uma atividade exclusiva para homens, como culturalmente é encarada. As mulheres têm se identificado com as atividades e com a diversidade de conhecimentos e funções ofertados pelo Setor Elétrico e vêm quebrando paradigmas ao escolher a engenharia como profissão. Nesse sentido, ao ver mulheres na linha de frente e atuando como engenheiras, outras mulheres passam a ter referência feminina na área e se permitem também ingressar no meio. Percebo essa maior participação das mulheres no Setor Elétrico Brasileiro como uma grande oportunidade para o mercado, a partir de uma maior atração de profissionais de grande capacidade e potencial para o meio. Quais as suas perspectivas e projetos de atuação profissional? No segundo semestre de 2019, ingressei no mestrado da PUC Minas e, no momento, estou entusiasmada com a oportunidade de dar continuidade aos estudos, agora em um novo patamar. Tenho bastante interesse na área acadêmica e grande paixão pela troca de conhecimento, o que me traz uma forte vontade de lecionar futuramente. Paralelamente, tenho atuado na área de Geração Distribuída na CEMIG, uma companhia pela qual tenho grande admiração e onde tenho a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais do setor elétrico, que me ensinam diariamente o valor de mercado da engenharia elétrica, a importância da área para a sociedade, de forma prática e a aplicação de conhecimentos adquiridos no curso no meu dia a dia. Sou grande entusiasta em unir as duas funções e poder levar futuramente para a sala de aula, como professora, não somente o que aprendo na área acadêmica, mas ensinar aos futuros engenheiros a pensar a engenharia como solução e caminho para melhorias estruturais da sociedade.
Juliana Gutierrez Motta, Engenheira Interdisciplinar que alia a Engenharia Ambiental e Urbana à Engenharia de Energia a partir do Currículo Inovador proporcionado pela UFABC
Sempre tive interesse por questões de sustentabilidade, portanto iniciei o curso de Engenharia Ambiental e Urbana na Universidade Federal do ABC em 2009. Devido ao caráter interdisciplinar da universidade, ao longo da graduação tive oportunidades de cursar disciplinas e visitar empreendimentos de geração de energia, despertando cada vez mais meu interesse pela área. Então, tomei a decisão de cursar também Engenharia de Energia. Foi assim que percebi que estava no caminho certo: uni duas áreas da engenharia que se complementam e, assim, me senti completa! O estágio em uma empresa de energia renovável também foi de extrema importância para reforçar minhas escolhas. Lá pude aprender na prática como energia e meio ambiente caminham juntos. No âmbito profissional você tem atuado na interface do setor com as questões ambientais, na empresa de energia renovável Siemens Gamesa. Como se dá o seu trabalho? Como tem percebido os desafios e as potencialidades dessa área do setor elétrico hoje? Atualmente trabalho acompanhando projetos de parques eólicos prestando suporte técnico desde a etapa inicial, em que se estuda o recurso energético, até o comissionamento dos aerogeradores. Antes disso, trabalhei por quatro anos, incluindo o tempo de estágio, com análise do recurso eólico que envolvia a caracterização do vento e avaliação do terreno em que um parque será instalado. Sua participação nos eventos do CIGRE e especialmente do Comitê de Estudos C3 de Desempenho Ambiental de Sistemas é intensa. Qual a importância do CIGRE no seu percurso profissional e de formação? Durante a graduação no curso de Engenharia de Energia iniciei um trabalho de pesquisa relacionado à sustentabilidade e o inscrevi para apresentação no XVII ERIAC. O desenvolvimento do artigo e apresentação foram etapas de grande aprendizado que contribuíram muito para minha formação acadêmica e profissional e coincidiram com o fim da minha graduação em Engenharia de Energia. Foi, portanto, uma experiência que marcou o fim de um ciclo. Neste evento, além da oportunidade de poder apresentar os resultados do trabalho, também tive contato com diversos agentes do setor elétrico. Percebi, então, a importância de eventos como este que aproximam academia e indústria. Hoje continuo trabalhando nessa linha de pesquisa, porém agora no Mestrado em Energia, também na Universidade Federal do ABC. Assim, continuo buscando participar dos eventos promovidos pelo CIGRE devido à sua relevância para os temas do setor elétrico. Na minha trajetória profissional não foram poucas as vezes que me deparei com estudos desenvolvidos e disponibilizados pelos comitês do CIGRE. Além disso, o CIGRE é um órgão renomado e de referência para o setor elétrico que orienta muitas das questões observadas no dia-a-dia das indústrias do setor. E quanto à presença feminina no setor elétrico, como a tem percebido?
Historicamente, em diferentes épocas e sociedades, estabeleceu-se a marginalização da mulher. Ao longo do tempo a mulher recebeu o papel de subordinada sofrendo com a discriminação e opressão. Apesar da sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade, ainda há muito para se fazer para a igualdade no trabalho e a garantia dos deveres e direitos garantidos por lei. Atualmente a mulher busca o mesmo direito do homem em relação às oportunidades de trabalho, salário e benefícios. A luta é para a igualdade e reconhecimento de talento, independente do gênero. |