I Parceria CIGRE-Brasil e Revista O Setor Elétrico

Uma nova fase foi iniciada com o a chegada da 2ª década dos anos dois mil: a selagem de novas parcerias nas nossas realizações. Que sempre existiram, desde a criação da entidade, é verdade. Aliás, o concebimento do CIGRE-Brasil foi fruto de uma convergência de esforços de vários profissionais atuantes em diferentes empresas, como já contamos em outras publicações – revista EletroEvolução no 100 – seção Memória.

Mas com o cenário atual, outras oportunidades surgiram para o estabelecimento de novas ligações para desbravar essa jornada on que vem se instaurando no dia a dia da sociedade.

É nesse contexto que mais um desses recém-projetos foi concluído. Dessa vez, com CIGRE-Brasil e a Revista O Setor Elétrico, onde as equipes de ambas as instituições realizaram na 5a feira, dia 23.09, uma discussão sobre as últimas tendências de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia na visão dos nossos especialistas, com a participação dos convidados e mediadores:

• Adolfo Vaiser –  Diretor da Revista O Setor Elétrico
• Daniel Bento – Diretor Executivo da BAUR do Brasil
• Saulo José Nascimento Cisneiros – Diretor-Presidente do CIGRE-Brasil
• Iony Patriota de Siqueira – Diretor Técnico do CIGRE Brasil
• Mario Ellis – Superintendente de Produção Oeste de Furnas

 

XXVI SNPTEE  – O que está por vir

Em clima de comemoração do centenário do CIGRE Internacional e do cinquentenário do CIGRE-Brasil, bem como destacou Adolfo Vaiser, no seu discurso de boas-vindas do webinar, o tema do debate teve como cerne o principal evento do Comitê Nacional Brasileiro (CNB) – o SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica.

Mario Ellis, que na 26ª edição do seminário recebeu o bastão para ficar à frente da Coordenação Geral, falou dos aspectos de celebração que caracterizam o próximo evento, além dos marcos das instituições citados anteriormente. Isto porque marcará o retorno do  presencial, “o grande reencontro do Setor Elétrico”, como Ellis chamou, e toda a ansiedade que vem sendo gerada por esse momento.

Em relação à parte técnica, levantou sobre o momento de discussão sobre a transição do Setor Elétrico, da geração distribuída e armazenamento de energia, por exemplo – temas que vieram com força. Além das questões das novas tecnologias, de digitalização de um setor que sempre foi muito conservador – “até mesmo pela peculiaridade do produto que entrega para a sociedade”, afirmou. Alegou que é preciso inovação e tecnologia e informou que não tem dúvidas que o SNPTEE será um terreno perfeito para serem discutidas essas novidades.

Geração

Ainda sobre uma perspectiva técnica, Daniel Bento, que mediou o bate-papo, questionou a todos os presentes sobre as expectativas surgidas a respeito da geração.

O Diretor Técnico, Iony Patriota, expôs uma visão geral de como transcorrerá o temário dentro dos 16 Grupos de Estudos do SNPTEE, citando os aspectos da geração distribuída e da geração hidráulica, onde esta última consolida o país como líder mundial nas tecnologias envolvidas. Informou que acredita ser um dos assuntos de discussão nos empreendimentos hidráulicos do país e, por conseguinte, com reflexos no evento – através do Grupo de Estudo de Geração Hidráulica (GGH) – sobretudo com o tópico das usinas hidráulicas reversíveis,  que teve seu retorno nos debates do Brasil. Sendo uma opção nas pautas, em função do impedimento da construção de grandes reservatórios, atuando, dessa forma, como uma ótima solução tanto na geração, como no armazenamento.

Falou ainda sobre a abordagem da área técnica, por meio do Grupo de Estudos de Geração Térmica e Eficiência Energética (GGT) –  sobre os avanços da eficiência energética e da geração técnica, onde afirmou que esta última é “a bola da vez”, com a geração a gás natural, por exemplo. Disse que terão muitos empreendimentos a curto prazo, não só pela crise hídrica que o território nacional vem passando, mas também pela oportunidade, já que o Brasil é detentor de um razoável acervo de gás. Além disso, tem-se no horizonte, a médio prazo, as térmicas a hidrogênio – não apenas como elemento armazenador, mas também como possível gerador de energia direto, através da queima, como também para o transporte.

Encerrou com a área eólica, onde afirmou estar bem estabelecida, representando, hoje, uma grande participação na nossa matriz. A expectativa é que deverá evoluir – talvez a médio prazo – para a geração off-shore, com alguns empreendimentos já em discussão, principalmente no Norte/Nordeste do país, apresentando-se como uma grande opção para o futuro.

Um dos chamados “Ds” – A Digitalização

Sobre a digitalização, foi defendida a ideia de não ser apenas mais uma opção, uma vez que não há outro caminho. Isto porque as novas tecnologias apresentam muito mais soluções dos que as anteriores, além das questões dos custos reduzidos que envolvem na projeção de uma subestação digital – apesar dos custos adicionais advindos com o processo de digitalização das instalações anteriores. Um desafio que ocorre em qualquer introdução de tecnologia, que envolve todo o esforço de adaptação de treinamento de pessoal e ferramental. Isso para não mencionar os riscos, mas que ainda assim é “um caminho sem volta”, de acordo com Iony, uma vez que o mercado só oferece solução digital.

Mesmo que tenham as questões dos incidentes cibernéticos, que vêm crescendo consideravelmente, sobretudo com a instauração da pandemia – uma vez que aumentou o trabalho em home office e, com isso, o acréscimo de mais dispositivos conectados, como bem lembrou Iony e Saulo, exemplificando com fatos acontecidos na história. No entanto, ainda assim a digitalização é “um movimento inexorável em que o Setor Elétrico não tem outra opção”, reiterou Iony.

Um ponto relacionado a esses riscos e que foi levantado é sobre a preocupação que se tem em proteger o Setor Elétrico (SE). Isto porque, segundo Iony, ele é “uma espécie de catalisador dos demais setores críticos”, como o setores de água, de comunicação, financeiro, de transportes – todos dependentes do SE. Falou ainda da teoria em que se estuda a centralidade de sistemas complexos, que é exatamente o papel exercido pelo Setor Elétrico: isto é, de propagar falhas no seu próprio sistema para outras infraestruturas críticas. Por isso o zelo na proteção do setor em pauta, uma vez que uma falha sistêmica trará consequências sociais consideráveis.

Iony informou que estes aspectos vêm sendo discutidos, não só nos ambientes técnicos, mas também no regulatório e concluiu que há, no entanto, a necessidade da criação de normas pelos órgãos reguladores, com a atuação em conjunto do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e com a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) – que ainda se encontra em nível de consulta pública – para uma melhor regulamentação, visando assim mitigar os riscos de incidentes cibernéticos (confira também o webinar Cyber Security no Setor Elétrico). Tópicos de discussão que são “o grande tema do momento”, de acordo com o Iony, que inclusive serão aprofundados pelos Comitês de Estudos B5 – Proteção e Automação e também o Comitê de Estudos D2 – Sistemas de Informação e Telecomunicação para Sistemas Elétricos, dentro do SNPTEE.

Principais Desafios da Distribuição

“A distribuição é a fronteira da evolução do Setor Elétrico” alegou Iony. Principalmente com a possibilidade da tecnologia disponível, como a microgeração a gás, o micro armazenamento, geração solar, todas ocorrendo essencialmente na distribuição. Parte dela ocorrerá dentro de ambientes domésticos, dentro das casas dos indivíduos, com os painéis solares, com micro turbinas a gás – uma revolução na forma de gerar energia, dos tempos atuais, que impacta sobretudo na distribuição – sobre o aspecto técnico, principalmente.

Isto porque a nossa rede de distribuição não foi construída para ter fluxo de direcionamento de energia, sendo o advento da inserção da geração distribuída o caminho para a reversão do mesmo [do fluxo]. Portanto, tem todo um processo de modernização a ser feito na área de proteção e controle, para se permitir, assim, essa penetração.

Uma outra questão seria a da controlabilidade/observabilidade deste aspecto. Em uma usina tradicional se monitora todas as variáveis. Já na geração distribuída, como ela é rarefeita e distribuída geograficamente em pequenas quantidades, é praticamente impossível monitorá-las todas individualmente – o que se tornou atualmente um objeto de estudo do ONS.

Paralelamente tem ainda a questão econômica – também sinalizada pelo diretor Iony, que comentou sobre a boa estrutura já existente na área de comercialização de energia. Mas atentou para o mercado da geração distribuída, cujas determinações ainda se encontram em fase de consulta pública e da necessidade de se definir um modelo de mercado de varejo, de inserção da geração distribuída, principalmente a microgeração.

Adicionalmente às renováveis, como a solar, citou ainda a entrada nos próximos anos da mobilidade elétrica, que é também uma geração distribuída. Isto porque o carro pode armazenar e gerar energia para a rede. Assim como ocorre com a rede de eletropostos, onde a maioria terá micro geração solar e armazenamento, os quais também serão geradores para a rede.

Finalizou que o aspecto tecnológico se resolve por si , como aconteceu na digitalização. Mas no econômico é preciso criar essa regulamentação de mercado livre, a nível nacional, colocando, portanto, como o grande desafio da geração distribuída.

 Novidades no SNPTEE

Ainda sobre a tônica da distribuição e o que vem por aí no próximo SNPTEE, Iony falou de uma novidade no evento: a criação de um novo Grupo de Estudos, o GRT – Grupo de Recursos Energéticos Distribuídos. Um resultado da expansão da área de atuação de um grupo anterior, que se dedicava aos estudos acerca das gerações eólica e solar. Agora, além dessas, serão discutidos quaisquer recursos distribuídos: hidrogênio, armazenamento, mobilidade elétrica, gás, enfim, todos que não são concentrados em um só local, com a finalidade de atender à necessidade dessa demanda que vem emergindo na sociedade atual.

Encerramento 

“Uma boa prévia do que vem por aí”, afirmou Saulo, se referindo ao que foi discutido na live e no que está por vir no maior evento da instituição – e também o maior da América Latina, como colocou em seu discurso de abertura em sua apresentação institucional.

Mario Ellis, na condição de Coordenador Geral, também deu sua palavra final e aproveitou o ensejo para voltar ao comentário realizado por Daniel, sobre os profissionais jovens serem como esponjas para absorver conhecimento, sobretudo em uma época de fervilhamento de ideias.

Fez então um convite, especialmente a todos jovens a participarem do evento, lembrando dos seus tempos de estudante de graduação e a vontade em participar de um seminário deste porte. Uma verdadeira oportunidade de ter uma edificação nas suas trajetórias profissionais, com a obtenção de um leque extenso de conhecimento. Ao final, anunciou ainda a abertura de inscrições, em breve, ainda este ano.

⏩ O webinar na íntegra pode ser conferido através do canal do youtube da Revista O Setor Elétrico.
Acesse o site do SNPTEE e fique por dentro!