Formado em Engenharia Elétrica, pela Universidade de Brasília em 1972, o sulmatogrossense Nelson Martins seguiu carreira acadêmica no Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester – Inglaterra, onde realizou seu mestrado e doutorado. De volta ao Brasil dá início a uma longa e produtiva carreira no CEPEL – grupo Eletrobras, o mais importante centro de pesquisa em energia elétrica do país,onde, atualmente, também exerce a função de assistente da Diretoria de Pesquisas e Inovação.
Sua intensa atividade no IEEE e no CIGRE resultaram em inúmeras publicações (em grande parte reunidas em seu site), além de reconheci-
mentos registrados em vários prêmios, tais como Prabha Kundur Power System Dynamics and Control (2015), concedido pela Sociedade de Potência e Energia (Power and Energy Society – PES) do Instituto de Engenharia Elétrica e Eletrônica (Institute of Electrical and Electronics Engineers – IEEE) ou o convite para Membro Estrangeiro da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos (National Academy of Engineering – NAE), além dos prêmios concedidos pelo CIGRE Internacional (2007) e pelo CIGRE-Brasil (2018).
São também resultados da sua dedicação à pesquisa a sua eleição como Membro Estrangeiro da Academia Nacional de Engenharia dos EUA (NAE) e da Academia Nacional de Engenharia do Brasil (ANE), outras duas instituições em que atua.
Entre tantas atividades, Nelson Martins ainda participa, junto com colegas professores de diversas universidades do Brasil e do exterior, da orientação de pesquisadores nos níveis de mestrado e doutorado.
Na entrevista que se segue, um pouco mais sobre essa trajetória e sobre a importância das instituições a que Nelson Martins tem dedicado parte importante de seu trabalho.
Do ponto de vista privilegiado, de pesquisador sênior de um centro de pesquisas como o CEPEL-Eletrobras, com produção e reconhecimento expressivos em nível nacional e internacional, qual a sua avaliação da situação atual da pesquisa no âmbito do setor elétrico, no Brasil? Ao longo desses anos em que tem testemunhado o desenvolvimento do setor, percebeu mudanças importantes no país, no que diz respeito à pesquisa e à sua aplicação efetiva no SEB?
Nos primeiros 30 anos de minhas atividades profissionais dediquei-me, sobretudo, à parte técnica e científica da Engenharia Elétrica, na especialidade de Sistemas Elétricos de Potência, principalmente na área de dinâmica e controle. Nestes últimos 18 anos, no entanto, tenho me envolvido, de modo crescente, em atividades que transcendem à Engenharia de Sistemas de Potência, observando os desafios da Engenharia como um todo, sobretudo, aqueles que mais importam à Engenharia nacional. São tentativas modestas de promover uma maior autonomia tecnológica para o país, pois é nela que se apoia a soberania nacional. Temos que interagir internacionalmente, participar de diversos fóruns, negociar bem e de forma estratégica, com foco em questões de longo prazo que resultem em melhorias ao nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) sem nos deixarmos levar por predileções menores.
Após 40 anos de trabalho dedicado ao Cepel, vejo que ainda posso ter um papel importante. No momento, acabei de concluir a redação de artigo sobre o papel essencial dos sistemas de transmissão de grande capacidade e a longa distância, para promover um desenvolvimento mais sustentável tanto no Brasil, como no exterior. Este artigo foi preparado após receber convite do conselho editorial da revista-mãe do IEEE, a Proceedings of the IEEE, para expressar o meu ponto de vista a respeito da Grid of Microgrids defendida por al-guns como sendo a solução ideal para os sistemas de potência do futuro. Como discordo deste ponto de vista, o artigo, escrito em colaboração com outros dois colegas do CEPEL – André Diniz e João Barros -, chama-se A grid of microgrids: is it the answer?
Este trabalho perece-me ser um dos primeiros do CEPEL em que as áreas de Planejamento Energético e de Redes Elétricas têm igual participação. O resultado foi interessante e espero que seja logo publicado.
Um importante trabalho que realizou foi o desenvolvimento do programa computacional PacDyn (Análise e Controle de Oscilações Eletromecânicas em Sistemas de Potência) que é, hoje, utilizado mundialmente, inclusive por países, como o Japão, resistentes à importação de tecnologia estrangeira. Poderia nos contar algo sobre o processo de desenvolvimento do programa computacional PacDyn (Análise e Controle de Oscilações Eletromecânicas em Sistemas de Potência) que é, hoje, utilizado mundialmente, inclusive por países, como o Japão, resistentes à importação de tecnologia estrangeira. Poderia nos contar algo sobre o processo de desenvolvimento e internacionalização desse programa, entre outros no CEPEL?
Meu trabalho no CEPEL teve várias fases, entre as quais a criação do PacDyn e de seu precursor, o Autoval, foram, talvez, as de maior relevância. Fui orientador dos doutorados de Leo Lima, Herminio Pinto, João Alberto Passos, Julio Cesar Ferraz, Sergio Gomes e Sergio Varricchio, além de teses de mestrado de outros pesquisadores, tais como Wo Wei Ping e Ricardo Mota Henriques, todos eles envolvidos em vários projetos importantes do Departamento de Redes Elétricas do CEPEL (DRE). Além disso, tive participação, como consultor, em maior ou menor grau, em outros projetos do mesmo departamento, coordenados por Ricardo Diniz, Albert Melo, Sergio Granville e Flávio Alves, também integrantes ou ex-integrantes do DRE.
Atualmente, quais são as frentes de pesquisa e projetos a que se dedica?
Além de assistente da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do CEPEL, gostaria de registrar meu engajamento na Academia Nacional de Engenharia, onde pude conhecer colegas ilustres de diversas especialidades e adquirir uma visão mais abrangente e atual da engenharia nacional, grandes projetos já realizados ou ainda por realizar, bem como as implementações corretas ou inadequadas de alguns deles. Ali, sobretudo, lutar pela valorização da Engenharia Nacional e de seu papel estratégico na promoção do desenvolvimento sustentável deste país continental. Atualmente, com o apoio da Academia Nacional de Engenharia (ANE), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da National Academy of Engineering (NAE, a academia norte-americana) estamos organizando o primeiro workshop da América Latina do Grand Challenges Scholar Program, um esforço desenvolvido pela NAE para a preparação dos engenheiros do futuro, para que possam enfrentar melhor os Grandes Desafios da Engenharia. Este workshop será realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em agosto deste ano, sob a coordenação da professora Virginia Ciminelli (UFMG) e a minha, com o apoio das três academias mencionadas. Ali, sobretudo, lutar pela valorização da Engenharia Nacional e de seu papel estratégico na promoção do desenvolvimento sustentável deste país continental.
Atualmente, com o apoio da Academia Nacional de Engenharia (ANE), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da National Academy of Engineering (NAE, a academia norte-americana) estamos organizando o primeiro workshop da América Latina do Grand Challenges Scholar Program, um esforço desenvolvido pela NAE para a preparação dos engenheiros do futuro, para que possam enfrentar melhor os Grandes Desafios da Engenharia. Este workshop será realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em agosto deste ano, sob a coordenação da professora Virginia Ciminelli (UFMG) e a minha, com o apoio das três academias mencionadas.