Diretor-presidente do CIGRE-Brasil, na gestão anterior (2015-2019), Josias Matos de Araujo teve como algumas das suas prioridades, o fomento a formação dos Fóruns de Mulheres e de Jovens do CIGRE-Brasil. Não por acaso é o convidado desta segunda edição do Fórum de Jovens a promover o diálogo integeracional que o evento propõe.
É de fato um representante expressivo da sua geração, tendo testemunhado e, muitas vezes, cooperado diretamente para a expansão do Sistema Integrado Nacional, para implantação do Operador Nacional de Sistemas ou para a realização de programas de expansão ao acesso à energia elétrica, como o Luz para Todos, entre outros importantes processos que caracterizam a sua trajetória e o próprio setor elétrico brasileiro.
Nesta entrevista, trazemos uma amostragem do que Josias Matos de Araujo levará ao II Fórum de Jovens, no dia 12 de novembro, durante o XXV SNPTEE.
Em dezembro de 2017, o senhor fez um “balanço” da sua gestão como presidente do CIGRE-Brasil naquele ano. Na ocasião, o senhor nos contou como foi o processo que o levou ao trabalho no setor elétrico, assim como nos relatou momentos importantes da sua carreira na Eletronorte, na Eletrobras e no Ministério de Minas e Energia. Diante dessa importante trajetória, que conselhos o senhor daria aos jovens que estão iniciando a sua carreira no Setor Elétrico Brasileiro?
Gostaria de dizer aos jovens que um dos pilares fundamentais de quem está começando uma carreira é ter coragem de fazer acontecer o seu plano de vida tanto pessoal como profissional. A vida é uma caminhada com muitos ciclos. Cada ciclo requer momentos para refletir, pensar e decidir qual o caminho a seguir sabendo aproveitar as oportunidades e encarando os desafios como uma forma de crescimento, de atingir seus objetivos e suas metas. Lembro aos jovens que a própria evolução da tecnologia, desde a 1ª revolução industrial até a 4ª revolução industrial, a chamada Indústria 4.0, tem colocado à prova os Seres Humanos, exigindo a adoção de novos modelos de negócios e novas formas de reorganização da Sociedade e das Organizações. As mudanças ocorrem a cada nova fase da vida, mas uma coisa é certa: O Ser Humano continuará sendo o elemento mais importante na cadeia dos acontecimentos. É preciso entender que uma carreira se constrói passo a passo, com envolvimento, determinação, prudência e muita sabedoria e, acima de tudo, acreditar que o seu sucesso depende de você, mas também das pessoas que o rodeiam. Saber construir a ponte para o futuro é uma arte e requer muita sabedoria.
Durante a sua gestão como presidente do CIGRE-Brasil (de 2015 a 2019), o senhor foi um incentivador importante na realização do primeiro Fórum Nacional de Mulheres à semelhança do Women in Engineering Forum que teve a sua primeira edição em 2014, na Bienal de Paris. Qual a sua visão com relação à participação feminina nas diferentes funções técnicas do Setor Elétrico Brasileiro?
Considero a participação feminina importante em todos os segmentos da sociedade. Estamos em pleno século XXI, o século das revoluções tecnológicas, das transformações digitais e da busca de modelos que garantam a sustentabilidade do planeta.
A mulher ao longo da história do mundo tem demonstrado sua força e intuição na solução de muitos problemas. Para a escritora francesa e feminista Simone de Beauvoir “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. Na minha vida profissional e privada tenho encontrado muitas mulheres de fibra e determinadas a enfrentar todas as barreiras impostas pelo rigor da discriminação e da intolerância de alguns que ainda acreditam que a mulher tem papel secundário no mercado de trabalho. Como gestor de grandes empresas sempre considerei a participação feminina como um fator crítico de sucesso. Tive a oportunidade, como presidente da Eletrobras Eletronorte de contar com 50% de participação feminina no quadro gerencial da presidência e afirmo que a integração homem mulher foi fundamental para o sucesso de minha gestão.
Um dos idealizadores de três importantes eventos realizados pelo CIGRE-Brasil: o International Seminar on Policies, Incentives, Technology and Regulations of Smart Grids (dez/2017), Gestão de Ativos na Era da Inovação Tecnológica (dez/2018) e o Workshop Electricity for All (ago/2019). Em que medida, as temáticas abordadas nesses eventos traduzem tendências do setor elétrico no Brasil e no mundo?
O anúncio da Amazon, em julho deste ano de que investirá US$ 700 milhões para capacitar 100 mil funcionários em novas tecnologias, enviou um sinal claro: os empregos do futuro exigirão competências nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. É diante desse cenário que o CIGRE-Brasil tem investido na realização de eventos com temas alinhados à novas tecnologias e aos avanços da ciência que, com certeza, vão requerer das empesas de o setor elétrico repensar seus modelos de negócios e seus processos.
Sabemos que em todo cargo de gerência os desafios técnicos dão espaço aos desafios da gestão de pessoas. Como foi sua experiência nesse campo de atuação? Destacaria algum desafio ou conquista importante?
A experiência na liderança de organizações tem sido uma experiência fantástica, repleta de muitas aprendizagens e crescimento profissional. Liderar significa saber identificar as potencialidades adormecidas, saber ouvir e transformar as sugestões em planos estratégicos para a organização. É importante olhar os empregados de uma empresa tendo em conta que todos são essenciais para o atingimento das metas empresariais. O Ser Humano, apesar dos avanços da tecnologia, continuará sendo o pilar mais importante para a solução de problemas que requerem inteligência, criatividade e visão sistêmica do processo. A arte de integrar pessoas na busca de resultados empresariais destacaria como um grande desafio e, isso só é possível se as pessoas acreditarem que seu líder é capaz de fazer acontecer, de compartilhar suas experiências em prol do bem comum, estabelecendo iniciativas com início, meio e fim. Dentre os inúmeros programas que criei como gestor destaco o “Café e Bate Papo com o Presidente”, instituído na Eletronorte durante a minha gestão de 2010 a 2014, uma prática que se manteve por quatro anos e foi muito rica, com a participação não só dos gerentes, mas também dos empregados de todos os níveis da organização, com resultados positivos para o sucesso da empresa, a partir das sugestões e ideias que surgiram durante esses encontros.
Na sua opinião, qual o papel do CIGRE-Brasil na formação dos jovens que ingressam, neste momento, no Setor Elétrico Brasileiro?
O CIGRE- Brasil, como instituição privada sem fins lucrativos, que celebrará 50 anos em 2021, tem se empenhado desde a sua criação em gerar valor para os seus afiliados, a sociedade e a comunidade científica do setor elétrico brasileiros. Tem acompanhado a evolução da ciência e tecnologia, adaptando-se aos cenários que surgem para garantir a disseminação do conhecimento e a formação de novos profissionais para as empresas de energia elétrica. Creio que vivemos um processo de transição entre aqueles que tiveram a coragem de criar uma instituição forte que superou todas as adversidades e, a geração de profissionais da era digital que tem o compromisso de manter o CIGRE-Brasil vivo e forte rumo a caminhada que levará aos 100 anos de existência, assim como o CIGRE que, em 2021, comemorará um século. É importante que os jovens compreendam que para gerenciar pessoas, é preciso compreendê-las. Lembrar que segundo Stephen Covey “ignorar o inesperado seria viver sem oportunidade, sem espontaneidade e sem os ricos momentos dos quais a vida é feita”. Portanto, só a integração entre os visionários que definiram as bases para o CIGRE-Brasil e os jovens poderá garantir um futuro promissor para a nossa instituição, superando as adversidades e os entraves que, naturalmente, surgem no ciclo de vida de uma organização.