Dando continuidade com a divulgação de uma das iniciativas que o CIGRE-Brasil tem se engajado nos últimos anos, em prol do seu objetivo de promover a integração homens e mulheres no Setor Elétrico (SE) ) e nas atividades da organização, convidamos todos a conhecerem a 3a palestrante confirmada para o III Fórum de Mulheres, no dia 17.05.2022, durante o XXVI SNPTEE.
Sobre a palestrante
Professora no Departamento de Engenharia Elétrica (TEE) e no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações (PPGEET) da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, a professora Yona Lopes nos apresenta uma rica experiência de mercado e acadêmica, com certificação internacional, inclusive.
A Doutora em Computação pela UFF e com período de estudo na UCSC (University of California, Santa Cruz – EUA), na escola de engenharia (Jack Baskin School of Engineering), Mestre em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações, Engenheira e Técnica em Telecomunicações, também atuou por mais de dez anos como consultora em automação de subestações e digitalização de sistemas elétricos de potência. Principalmente com IEC 61850 e por mais de quinze anos no mercado de telecomunicações. A profissional vem atuando em projetos importantes para o setor, colaborando principalmente em assuntos relacionados a Norma IEC 61850.
A profa Yona, que atua colaborativamente com as atividades do nosso Comitê de Estudos D2 – Sistemas de Informação e Telecomunicação para Sistemas Elétricos (CE D2) como Assessora Científica do grupo – e que recentemente foi a mediadora de dois episódios da série CIGRE Tech Talks, promovida pelo CE, é uma das convidadas que compõe o quadro de palestrantes da 3ª edição do Fórum de Mulheres do CIGRE-Brasil, durante o SNPTEE, em 2022. Representando, assim, uma das figuras femininas que se destacam no ramo da Engenharia Elétrica Nacional.
Da conversa como CIGRE-Brasil
CIGRE-Brasil – O Setor Elétrico é majoritariamente masculino. E mesmo com uma participação feminina um pouco maior nos dias de hoje, ainda pode ser vista uma diferença significativa com relação à presença de engenheiras no mercado.
Como foi a sua experiência na sua trajetória de escolha da profissão e como foi o seu ingresso neste universo, sendo parte de uma classe com menor representatividade?
Yona – Lembro-me como se fosse hoje do receio que senti ao pensar que o “feeling” da minha mãe estivesse errado. Entrei aos 14 anos para o ensino técnico em Telecomunicações, na FAETEC no Rio de Janeiro, baseada apenas no “sentimento de mãe”, sem ideia nenhuma que chegaria aonde estou. Bastou o primeiro semestre para eu já estar imersa em laboratórios, colocando a mão na massa e queimando alguns resistores… Era uma turma de 30 rapazes e 3 meninas, eu já sabia que não seria tarefa fácil.
Formei-me técnica com um gosto especial pelas disciplinas de laboratório e certa do que eu queria. Lá estava eu, técnica em telecomunicações, confiante e realizada – obrigada, mãe! No entanto, meu primeiro desafio veio logo no estágio na equipe de instalação e manutenção. A equipe que eu fazia parte era responsável pela implantação e testes em rádio enlace e redes ópticas e, por muitas vezes, passei o dia todo dentro de pontos de presença de comunicação em subestações de energia ouvindo que “isso não era coisa de menina” ou que eu era “muito jovem” para estar ali.
De lá para cá, muita história para contar, mas um padrão: um universo dominado por homens e uma certa pressão pela troca de profissão. Amigas do ensino técnico e da graduação mudando de área. No mercado, muitas cenas deselegantes e cada situação que surtira efeito contrário, me dando mais força e impulso para seguir e procurar cada vez mais conhecimento. Portanto, posso dizer que minha trajetória de escolha da profissão foi movida a desafios e busca por conhecimento, e muita busca…
E assim, embarquei na área de automação que, na época, era um dos maiores desafios que encontrei! De 2008 para cá, a área de automação foi afunilando para o setor elétrico. Passei por empresas, diversos projetos, consultorias, treinamentos, capacitação, comissionamentos, TAF e muito estudo! No fundo, a minha vida acadêmica sempre foi reflexo do trabalho, de onde “resgatei” cada maior desafio e problema que eu encontrava e abordava na pesquisa. Sempre fiquei com um pé no mercado e um na universidade, tarefa suada e difícil, mas recompensadora. Atualmente, sou professora da UFF, universidade que amo e agradeço cada oportunidade que tive. Aqui, eu tento atuar para retribuir cada auxílio, oportunidade e ensinamento que tive.
CIGRE-Brasil – E, atualmente, enquanto professora, como você observa a evolução dessa questão tanto no corpo discente quanto no corpo docente da(s) universidade(s)?
Yona – Atualmente, sou a única docente mulher dentro do departamento de Engenharia Elétrica. Vejo que apesar de uma representatividade pequena no corpo docente isso vem mudando cada vez mais. Na graduação e na pós (PPGEET – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações) temos cada vez mais alunas. Nosso grupo de pesquisa em digitalização de sistemas elétricos recebe cada vez mais mulheres. Vejo que esse cenário está cada vez mais perto de mudar.
Cabe destacar, que tive orientadoras mulheres no Doutorado, inclusive a que tive nos EUA, na UCSC. Sim, éramos 4 mulheres. A Engenharia de Telecomunicações e o Instituto de Computação tem um corpo docente com diversas mulheres incríveis! Vejo essa tendência crescendo, o gosto feminino pela área de ciências exatas aumentado. Vejo, pelas alunas que estamos formando, que em um futuro não muito distante, esse número vai aumentar.
CIGRE-Brasil – Com certificação HCIA 5G pela Huawei, sabemos que também trabalhou com Propriedade Intelectual com enfoque em patentes 5G. Inclusive, seu pós-doutoramento foi voltado para Segurança Cibernética e novas tecnologias de comunicação para o sistema elétrico.
Como o CIGRE-Brasil se preocupa e tem se alinhado com inciativas que promovem uma participação mais significativa de mulheres, gostaríamos de saber se esse título contribuiu para o concebimento do seu projeto 5GIRLS, com o intuito de estimular a integração das suas alunas na Tecnologia 5G.
Poderia nos contar um pouco mais sobre essa iniciativa?
Yona – Mas é claro! Esse projeto é um desejo antigo realizado. Digo isso não só pela parte da pesquisa, mas principalmente por oferecer oportunidade para as nossas meninas e mulheres na área. De fato, vocês acertaram em cheio! Minha experiência com 5G me deu de bandeja o desafio que eu precisava para construir o projeto, Inclusion of Women in Science through 5G Infrastructure for URLLC in Power Systems, o 5GIRLS!
Os dois campos técnico-científicos que estão diretamente relacionados ao objeto do projeto 5GIRLS, a digitalização do sistema elétrico de potência e a tecnologia 5G, são áreas novas e em plena fase de estruturação. Por serem áreas de atuação mais recentes, usualmente a demora entre a implementação pelas indústrias e a reformulação dos currículos de cursos profissionais nas universidades e institutos é maior. Logo, a participação das estudantes em ações de pesquisa e extensão que oportunizem aprendizado nestas novas áreas pode facilitar o acesso ao mundo do trabalho, e por consequência reduzir a lacuna da sub-representação feminina.
Desta forma, o tema oferece grande potencial de inserção feminina, já que as futuras profissionais não teriam que disputar uma vaga num contexto com estereótipos de gênero já preestabelecidos. Inclusive o aumento da representação feminina em áreas novas e em ampla ascensão é uma estratégia de extrema relevância para contribuição com ações afirmativas e políticas públicas para inclusão igualitária das mulheres nos mundos do trabalho.
Sendo assim, o 5GIRLS tem como propósito avançar o estado da arte no uso da tecnologia 5G, em especial na classe de serviço URLLC (Ultra-Reliable and Low Latency Communications) para aplicações de missão crítica do sistema elétrico, por meio do estímulo à participação e à formação de meninas e mulheres para as carreiras de Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação. Neste projeto, as principais aplicações candidatas ao uso do 5G no sistema elétrico são pesquisadas também através de intercâmbios, oficinas, minicursos e palestras nas instituições de ensino envolvidas, enquanto a presença e inserção feminina nas áreas citadas serão destaque nas ações realizadas pelas alunas e professoras, alunos e professores, envolvidos no projeto.
CIGRE-Brasil – Enquanto representante do gênero no campo acadêmico, algum outro projeto de integração estaria à vista – em andamento ou ainda no plano das ideias? Se sim, poderia compartilhar com a gente?
Yona – Apesar do projeto possuir apoio e financiamento durante 2022 pela FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), nossa ideia é que o 5GIRLS não se encerre. Estamos cooptando parcerias para financiamento de modo a manter a iniciativa de estudo e pesquisa de novas tecnologias para comunicação no setor elétrico viva após o fim deste período. A ideia é manter o grupo fortalecido tendo como foco o aumento da participação feminina nesta área, desenvolvendo lideranças, educação tecnológica e o empoderamento de mulheres como protagonistas na indústria da inovação e tecnologia. A digitalização de sistemas elétricos cresce cada vez mais, e o campo de estudo nesta área permite que a iniciativa se estenda ainda por bastante tempo. Da mesma forma, o 5GIRLS inclui além de mulheres e homens outras classes de minoria. É o primeiro projeto de um desejo nosso de integração. Outros projetos que atinjam as classes de menor representatividade estão no plano das ideias e torcemos que possamos ter auxílio para colocar em prática em breve.
CIGRE-Brasil – Você foi nossa sócia na categoria que chamamos por young member, dentro do CIGRE Internacional. Ou seja, você fez (e faz) parte de dois grupos que o CIGRE-Brasil abraça com projetos que estimulem uma maior participação em suas atividades.
Qual seria o seu recado a eles (as) para que possa fomentar maior interesse nas ações promovidas pela nossa instituição?
Yona – Encarem os desafios! Aproveitem cada momento para aprender. O CIGRE oferece uma vasta literatura técnica que nos permite ir além no conhecimento de mercado. Além disso, a oportunidade de interagir nos grupos e a troca com os mais experientes te traz muitos esclarecimentos e expande o conhecimento. Participe a aproveite cada oportunidade. Fazer parte, enquanto ainda jovem, de diversas experiências te ajuda no direcionamento da sua carreira com competência. A forma colaborativa é um dos melhores caminhos para colher bons frutos. E lembrem-se que o conhecimento te liberta.
Confiram as outras especialistas confirmadas nas outras publicações:
A Mulher e a Inovação no Setor Elétrico – Elbia Gannoum (ABEEólica): 12h10 às 12h20;
Projeto 5GIRLS A Mulher na Tecnologia 5G – Yona Lopes (UFF): 12h20 às 12h30;
Gestão, Aprendizado e Desafios com a Pandemia – Marcia Simões Nascimento (Furnas): 12h30 às 12h40.
⏩Confira também a conversa com a Elbia Gannoum, na edição de dezembro da Revista EletroEvolução.
⏩Confira também a conversa com a Marcia Simões, na edição de março da Revista EletroEvolução.