Dando continuidade com a divulgação de uma das iniciativas que o CIGRE-Brasil tem se engajado nos últimos anos, em prol do seu objetivo de promover a integração homens e mulheres no Setor Elétrico (SE) ) e nas atividades da organização, convidamos todos a conhecerem a 2a palestrante confirmada para o III Fórum de Mulheres, no dia 17.05.2022, durante o XXVI SNPTEE.
Sobre a palestrante
Marcia Simões do Nascimento é Engenheira Eletricista. Sua carreira profissional teve seus primórdios antes mesmo da sua formação, marcada por uma trajetória ampla pelos departamentos de Furnas Centrais Elétricas – uma das empresas parceiras e associadas do CIGRE-Brasil, desde 1971. Isto é, meio século de caminhada juntos, no compromisso dos desafios humanos e energéticos.
A especialista com ênfase em Sistemas de Potência tem graduação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pós-graduação em Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Em 1991, ainda como estagiária de engenharia do Departamento de Estudos Especiais da Operação em Furnas, foi contratada para trabalhar ao término da faculdade exercendo atividades associadas principalmente aos estudos do Elo de Corrente Contínua de da instituição.
Em 2004, passou a trabalhar na Divisão de Análise do Sistema adquirindo experiência na área de estudos de fluxo de potência e análises dinâmicas para viabilidades de desligamentos e contingências em todo o Sistema de Furnas. A partir de 2009 passou a compor a equipe do Centro de Operação do Sistema agregando seus conhecimentos de estudos à operação em tempo real, pré-operação, normatização e pós-operação.
Do bate-papo
Com um percurso percorrido de destaque, a Comissão Organizadora do Fórum de Mulheres (FM) do CIGRE-Brasil convidou a profissional para compor o quadro de palestras inspiradoras na 3ª edição da iniciativa – a ser realizada no dia 17.05.2022, durante o XXVI SNPTEE, na capital carioca, Rio de Janeiro.
Com a apresentação sobre Gestão, Aprendizado e Desafios com a Pandemia marcada para o III FM, Marcia nos deu uma prévia do que vem por aí, contando um pouco mais da sua jornada.
CIGRE-Brasil – O Setor Elétrico apresenta, mesmo nos dias atuais, uma significativa representação masculina. E uma das iniciativas abraçadas pelo CIGRE-Brasil é incentivar as profissionais mulheres a se desenvolverem nesse ambiente, de forma com que se alcance uma maior equidade e integração entre ambos os gêneros.
Acreditamos que personagens como você, que promovem verdadeiras transformações nos padrões que outrora foram estabelecidos pela sociedade, possam influenciar positivamente por essa busca.
Sabemos que de março de 2018 a maio de 2021 você gerenciou o Centro de Operação do Sistema e o Centro de Supervisão de Telecomunicações de Furnas, ambos os centros com equipes de tempo real e comercial.
Poderia nos contar um pouco dessa experiência? Sobretudo por ser um cargo de gestão, dentro de uma área técnica com uma maior representação masculina? Quais foram os desafios?
Marcia - Foi uma experiência desafiadora, não pelo fato de ser mulher, mas pela própria característica do trabalho com uma equipe de operação em tempo real e outra equipe com atividades de pré-operação, normatização e pós operação. O fato de já estar inserida na equipe técnica antes do cargo de gerência ajudou bastante no processo gerencial. Conhecer o trabalho e a característica da equipe foi essencial para o bom andamento das atividades. Apesar disso, lidar com muitas e diferentes demandas representou a saída de uma zona de conforto. Reconheço que o meu ambiente de trabalho é majoritariamente masculino, sendo de um total de 52 profissionais até maio de 2021, apenas 5 profissionais eram mulheres. Sempre considerei importante no exercício de uma gestão a busca do equilíbrio entre produzir para a empresa sem deixar de lado o respeito às pessoas. Reconheço que existem diferenças que marcam as características intrínsecas entre homens e mulheres na relação de trabalho, e ter uma equipe com perfis diferentes e que se complementam é uma excelente estratégia para aproveitar as boas características de todos.
CIGRE-Brasil – Atualmente, após uma reestruturação organizacional na empresa, você segue com a função de gestora, mas agora como gerente do Centro de Operação do Sistema à frente de uma equipe de 29 profissionais técnicos distribuídos em atividades de tempo real e horário comercial.
Novamente, você compartilharia sobre os seus aprendizados adquiridos e as adversidades vencidas, sobretudo no cenário de crise que se instaurou nesses dois últimos anos?
Marcia - A partir de março de 2020, com a chegada da pandemia de Covid 19 ao Brasil, início do teletrabalho, a manutenção da segurança para as equipes de tempo real e lidar com o desconhecido foi extremamente difícil e desgastante. Posso dividir essa experiência em três partes: aprender a coordenar as equipes no teletrabalho, gerenciar o turno em trabalho presencial nas duas Salas de Controle (Operação do Sistema e Supervisão de Telecomunicações) e demandas gerenciais extras de controle por conta da pandemia.
A coordenação das atividades das equipes que trabalham em horário comercial em teletrabalho exigiu um tempo de agenda maior, pois situações que eram antes tratadas facilmente pela proximidade física passaram a depender de agendamento de reuniões ou ligações individuais. Essa dificuldade foi reduzida pela excelente equipe e profissionalismo mostrado por todos. Algumas dificuldades pontuais foram contornadas facilmente.
Marcia e equipe de Furnas
A gestão das equipes de turno das salas de controle lidando com as dúvidas, inseguranças e medo do desconhecido foi realmente desafiadora. A implantação de protocolos de segurança, afastamentos preventivos, fechamento de escala após afastamentos, protocolos de desinfecção de ambiente me exigiram uma energia fora do normal. Eram ligações dos operadores e contatos com o médico do trabalho a qualquer hora do dia para sanar dúvidas e definir procedimentos visando a segurança de toda a equipe. Associado a isso, houve a necessidade do acolhimento emocional para a equipe, pois muitos estavam com medo por suas famílias. Muitos perderam parentes próximos e o ambiente ficou bem pesado.
Adicionalmente, todos os gerentes tiveram demandas gerenciais adicionais na Empresa com a implantação de novos protocolos, controle de afastamentos preventivos, sintomáticos, controle de limpeza dos ambientes e outras demandas técnicas.
De uma forma geral, foi uma grande experiência de gestão. A proximidade com a equipe foi reforçada até mesmo pelas muitas conversas individuais que tivemos.
CIGRE-Brasil –Você trabalha em uma empresa que está comprometida com as questões sociais, ambientais e outros aspectos que promovam um mundo mais justo e equilibrado, através de ações que visam alcançar os chamados 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Um deles é o #5, alinhado com o programa do Comitê Nacional Brasileiro, que é a igualdade de gênero.
Como você enxerga esse posicionamento por parte das instituições, que tem sido mesmo o tom da atuação de muitas atualmente?
Marcia - Promover a igualdade de gênero no trabalho é extremamente importante visando obter direitos e oportunidades iguais para homens e mulheres. O apoio das empresas nesta causa contribui muito positivamente contra o preconceito ainda vivido por muitas mulheres. Infelizmente, ainda encontramos muitas diferenças e barreiras para as mulheres, principalmente nas posições de liderança. Programas de equidade de gênero dão oportunidades para as mulheres criando um ambiente onde elas se sintam à vontade para expor suas opiniões, crescer e se desenvolver profissionalmente. Além do importante engajamento das empresas nessa causa, há ainda a necessidade de mudança de paradigmas na família para que a mulher não tenha sua carreira dificultada por ser mulher ou mãe.
CIGRE-Brasil – Além do Fórum de Mulheres, o CIGRE-Brasil, inspirado no CIGRE Internacional, apoia também outros projetos de incentivo. É o caso do nosso Fórum de Jovens e da Nova Geração Profissional (NGP). Esta última, uma sessão especial de apresentações de informes técnicos, igualmente dedicada aos profissionais juvenis, durante as edições do SNPTEE.
Congregando esses dois grupos e considerando sua vasta experiência no Setor Eletroenergético, qual seria o seu conselho para as jovens mulheres que estão ou têm interesse de ingressar nesse universo?
Marcia - Vocês devem buscar uma área que gostem, se empenhar e aceitar os desafios na carreira. Ouvir histórias de profissionais experientes e que obtiveram sucesso em suas carreiras pode servir de base e inspiração para orientação e também traz muitos esclarecimentos. De forma geral, o Setor Eletroenergético é muito amplo e oferece oportunidades em diversas áreas de atuação. Encontre a sua área preferida, se dedique e não permita que outras pessoas as impeçam de ter novas experiências profissionais. A atualização profissional é fundamental para a competência exigida a cada passo. Acreditar que é possível, mas ter a noção de que nada acontece sem esforço e sacrifício.
Confiram as outras especialistas confirmadas nas outras publicações:
A Mulher e a Inovação no Setor Elétrico – Elbia Gannoum (ABEEólica): 12h10 às 12h20;
Projeto 5GIRLS A Mulher na Tecnologia 5G – Yona Lopes (UFF): 12h20 às 12h30;
Gestão, Aprendizado e Desafios com a Pandemia – Marcia Simões Nascimento (Furnas): 12h30 às 12h40.
Confira também a conversa com a Elbia Gannoum, na edição de dezembro da Revista EletroEvolução.